O Coro Infantil – Rolando de Nassau

(Dedicado à leitora Rosana Maria dos Santos Cardoso, de Brasília-DF)

 No domingo, próximo ao Dia da Criança, deveria ser propício um pequeno recital do coro infantil. Entretanto, muitas igrejas abandonaram ou ainda não inscreveram em sua estrutura organizacional a existência de um coro infantil, que deve integrar o ministério de música.

 Atualmente, naquela data, são improvisadamente convocados garotos e garotas, entre 6 e 12 anos de idade, pertencentes ao ministério das crianças da igreja, para cantar, sem qualquer instrução musical efetiva.

 Essas apresentações têm um efeito deseducador: as crianças percebem que essa não é uma atividade séria, pois não é requerido delas disciplina e aprendizagem; no futuro, se forem para os coros juvenil (mais de 12 anos de idade), jovem (mais de 16 anos de idade) ou adulto, serão maus coristas.

 O coro infantil é necessário ao bom desenvolvimento da atividade coral na igreja.

 As crianças, de 6 a 8 anos de idade, possuem energia física e mental, curiosidade, receptividade, e são capazes de solfejar. Podem perceber as diferenças de coloração tonal dos instrumentos. Terão bom rendimento, se o (a) regente tiver prévio cuidado com a instrução musical dos coristas, dando atenção ao timbre, à extensão e à tessitura das vozes infantis.

 É frequente nos coros infantís o problema da desafinação; a regente deve pesquisar as causas (ver: Jean Ashworth Bartle, Sound Advice: Becoming a Better Children’ s Choir Conductor. Oxford: University Press, 2012).

 Outro problema é que as crianças pouco podem contribuir para o ambiente da adoração coletiva.

 Há a função de instruir, que é ensinar como cantar num coro, e a função de educar, que consiste em formar, desde a tenra idade, coristas conscientes da missão do canto coral (ver: Henry H. Leck, Creating Artistry Trough Choral Excellence. Hal-Leonard, 2009).

 A liderança deve exigir da regente do coro infantil que ela não se preocupe apenas em fazer cantar, mas retire do canto efeitos de educação musical, moral e religiosa. Esse canto deve caracterizar-se pela pureza das vozes e clareza da emissão vocal. A letra deve estar dentro da compreensão da criança, ilustrando algo bom e útil.

 Tão importante será a escolha das peças musicais a serem cantadas; certamente não serão escolhidas peças sob a influência deletéria da música  de “rock”, mesmo que mascaradas como “rock gospel” (roque santeiro).

Quase todos os compositores eruditos, até o tempo de J.S.Bach (cerca de 1730), compuseram obras corais para serem executadas por meninos. Em parte, porque o coro misto (homens e mulheres) não era tolerado pela liturgia católica.

Durante os primórdios do regime republicano no Brasil, as autoridades educacionais deram pouca atenção ao ensino musical. Nas décadas de 30 e 40, assumiu um cunho político.

Nessa época, foi organizado em Pernambuco, sob a orientação do professor Fabiano Lozano, e nas escolas públicas do Brasil, sob a direção do maestro Heitor Villa Lobos. Em 1941 eu estava entre os 40 mil juniores que, no estádio do Vasco da Gama, tinham sido orientados pela manosolfa de Villa Lobos.

Sob inspiração democrática, o governo federal, na década de 80, criou o Projeto “Villa-Lobos”, para apoiar e estimular a atividade coral no país, que foi coordenado por Elza Lakschevitz (ver: OJB, 09 out 1988 e 03 ago 2008). A Lei no. 11.769, de 18 de agosto de 2008, tornou obrigatório o ensino da música no grau fundamental. Com espírito pioneiro, Alciléa Serafim Silva implantou um coro infantil (com 75 crianças) em Brasília (ver: JB, 05 junho 1983).

Os coros infantis, dentro e fora das igrejas, entretanto, ainda são deficientes; não têm literatura especializada, recorrem a arranjos; sob o ponto de vista artístico, não atingem a altura dos “meninos cantores”.

Na Inglaterra, os coros infantis eram desafiados a executar o hino “All Things Bright and Beautiful”, de Cecília  Alexander e Louis Spohr (ver: “The Hymnal”. The Episcopal Church. New York: 1982). Este é um dos vários hinos que Cecilia escreveu para interpretar frases do Credo Apostólico, numa linguagem que as crianças pudessem entender. Aqui no Brasil, nem os adultos cantam hinos pensando no Credo …

Excepcionalmente, o Coro Infantil da UFRJ, criado em 1989 pela maestrina Maria José Chevitarese, já cantou, com orquestras sinfônicas, em montagem de óperas.

Podemos citar “meninos cantores” exemplares: de Leipzig, de Dresden, de Viena, de Paris, de Petrópolis; e os coros da Christ Church Cathedral (Oxford), do King’s College (Cambridge) e de Fort Worth (Texas, USA).

A liderança deve guiar-se por um programa de instrução e educação musical para crianças, com as seguintes características:

  • O coro infantil deve dar às crianças da Igreja uma oportunidade de serviço regular;
  • A participação no coro infantil dá uma oportunidade de liderança no serviço; os mais aptos assumirão o serviço;
  • O coro infantil providencia oportunidades para construir o caráter cristão das crianças;
  • O coro infantil deve ser parte de um processo educacional articulado com outros setores da Igreja;
  • O coro infantil pode atrair crianças de famílias que não frequentam igrejas.

Cabe a nós a tarefa de despertar os responsáveis pela instrução e educação musical nas igrejas.

Numa época em que escasseiam os coros e pululam as equipes de louvor, são desprezados os hinários e fartamente utilizados os “play-backs”, é tempo de preservar o canto coral.

Rolando de Nassau

(Publicado em “O Jornal Batista”, 03 jan 2016, p.)
Doc. JB – Música – No. 817
© 2016 de Rolando de Nassau – Usado com permissão

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2 Resultados

  1. Jônatas Fernandes disse:

    Material excelente! Aprendi mto!!

  2. Jônatas Fernandes disse:

    Material excelente! Aprendi mto!!

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