HCC 171 – Amor, que por amor desceste!
História
171. Amor, que por amor desceste!
NASCIDO em Glascow, Escócia, em 27 de março de 1842, filho de um abastado empresário, George Matheson sofreu uma crescente perda da visão desde sua meninice. Aos 18 anos já estava completamente cego. Mesmo assim, mostrou-se aluno brilhante, tanto na Academia como na Universidade de Glascow. Licenciado ministro da Igreja Livre da Escócia (Presbiteriana), tornou-se assistente na Igreja de Sandyford. Mais tarde assumiu o pastorado na igreja de Clyeside em Innellan, condado de Arvallshire, ali ministrando por 18 anos
Em 1886, Matheson aceitou o pastorado da Igreja São Bernardo, uma igreja de 2.000 membros, em Edimburgo, capital. Nesta igreja tornou-se altamente respeitado e amado, servindo até 1899, quando sua precária saúde o forçou a se aposentar. Muito conhecido, Matheson foi um dos mais destacados ministros escoceses dos seus dias. A Universidade de Edimburgo lhe conferiu o doutorado em Divindade em 1879 e a Universidade de Aberdeen o doutorado em Letras (ambos honoris causa), em 1902.
Dr. Parkhurst, famoso pregador de Nova Iorque, descreveu Matheson depois de uma visita a sua igreja:
A união da imaginação e razão na sua pregação e a profundeza da sua teologia fazem o seu ministério ter grande e viva influência, especialmente entre os jovens. Ele entra no púlpito, que não é maior do que um barril de trigo. Tem o rosto e porte do General Grant (famoso general da Guerra civil, então Presidente dos Estados Unidos), mas é mais alto. Com olhos abertos, naturais, ninguém advinharia que é cego. Agora se levanta, (…) vacila um pouco antes de ganhar o seu equilíbrio. Anunciando um Salmo, toma seus versículos sem erro de palavra. Durante o culto, pedindo diversos hinos e leituras com capítulos e versículos, ele não erra. Então ora. E que oração! Parece-me profano falar sobre ela! Sente também o coração do seu povo. Quarenta minutos ele prega e somos instruídos, restaurados e inspirados.1
Matheson escreveu muitos livros teológicos e devocionais e um livro de hinos denominado Sacred songs (Cânticos sacros), em 1890. Ao menos dois destes hinos foram traduzidos para o português. Este, que aparece em muitos hinários evangélicos, e um outro muito profundo: Cativa-me, Senhor, que apresenta o enigma: a vitória real vem por meio de rendimento incondicional.2
Sobre o surgimento do hino Amor, que por amor desceste Matheson escreveu:
[Ele] não foi composto. Veio como inspiração. Lembro-me muito bem da ocasião. Foi em Innellan, numa noite de junho de 1882. Eu tinha sofrido uma perda enorme e estava muito deprimido. Enquanto sentava ali acabrunhado, as palavras brilharam na minha mente como um relâmpago, e em poucos minutos as quatro estrofes estavam completas. Parecia que elas tinham sido ditadas a mim por mão invisível, completas em linguagem e ritmo.3O poeta não nos conta a fonte do seu sofrimento, mas relata que a ocasião foi no dia do casamento da sua amada irmã, que sempre fora sua mão direita. Aprendeu grego, latim e hebraico, para melhor ajudá-lo nos seus estudos teológicos. Esta irmã continuou a colaborar com ele durante toda a sua vida. Era ela quem o guiava nas suas visitas pastorais. Concordo com Bailey que acha
que o casamento dela trouxe a Matheson a lembrança de uma outra perda, a da sua noiva que o deixou, tantos anos antes, quando soube que ele se tornaria completamente cego, e que o intenso sofrimento de estar na escuridão da sua cegueira, totalmente só, foi o que afligiu o autor.4
O hino apareceu pela primeira vez em 1883, em Life and work (Vida e obra), o periódico mensal da Igreja da Escócia. Em 1885, foi incluído no Scottish hymnal (Hinário escocês). Matheson faleceu repentinamente em 28 de agosto de 1906. Certamente, naquela hora, houve júbilo inexorável para aquele servo de Deus, ao deixar, para sempre, este mundo de escuridão para a luz no rosto do seu Salvador!
O dinâmico evangelista e hinista Henry Maxwell Wright não tentou traduzir este maravilhoso hino, mas adaptou-o em 1912. Foi publicado na coletânea In memoriam Henry Maxwell Wright por seu grande amigo J.P da Conceição, juntamente com o seu acervo de 151 hinos e 42 coros. Seguindo-se logo sua inclusão em outros hinários evangélicos, este hino tornou-se muito amado em todo o Brasil (Ver dados deste extraordinário servo de Deus no HCC 1).
A métrica deste hino é 9.9.9.8.6. como corrigido nas edições mais recentes do Hinário para o culto cristão.5
Albert Lister Peace compôs esta linda melodia para o hino de Matheson para a edição de 1885 do The scottish hymnal a pedido dos seus editores.
Acredita-se que seu nome ST. MARGARET homenageia Margarete, a rainha de Malcom III da Escócia, canonizada em 1251. Sobre esta melodia, Peace falou:
Foi composta (…) durante a época em que a música de The scottish hymnal, do qual fui editor de música, estava em preparo. Escrevi-a em Brodick Manse,[em Arran, uma das pequenas ilhas ao oeste do Norte da Escócia] durante uma visita a meu velho amigo o sr. McClean. Não havia uma melodia daquela métrica disponível naquele momento, então a Comissão do hinário me pediu que escrevesse uma especialmente para o hino do Dr. Matheson. Depois de estudar o hino, escrevi a música logo em seguida e posso dizer que a tinta da primeira nota tinha acabado de secar pouco antes de eu terminar a última.6
Os batistas brasileiros conhecem esta melodia há muito tempo. W.E. Entzminger a escolheu para seu hino original Boa nova (CC 19).
Albert Lister Peace (1844-1912), nascido em Huddersfield, no condado de Yorkshire, Inglaterra, foi um prodígio musical. Aos cinco anos demonstrava a capacidade de identificar a altura de qualquer som que ouvia (diapasão absoluto). Tornou-se organista da sua igreja em Holmfirth aos nove anos. Continuou a tocar em outras igrejas da região até 1869, quando mudou-se para Glascow, assumindo a posição de organista da Universidade e da Catedral da cidade. Bacharelando-se na universidade, fez doutorado em música em Oxford (Inglaterra). Em 1897, aceitou a posição de organista em St. George’s Hall em Liverpool, continuando no cargo até sua morte em 1912. Peace foi um notável organista. Tornando-se membro do Royal college of organistas (Faculdade real de organistas), organização nacional de honra, em 1866, foi reconhecido em toda a nação. Editou diversos hinários para a Igreja Livre da Escócia.
1. BAILEY, Albert Edward. The gospel in hymns. New York: Charles Scribner’s Sons, 1950. p.458.
2. Ver Cantai ao Senhor 470. Louvor perene, n.49, folha 491 e Hinos e cânticos n.479).
3. MATHESON, George. Em: JONES, F.A. Famous hymns and their authors. 2ª ed. London: Hodder and Stoughton, 1903. p.195-196.
4. Ver BAILEY, Op. cit.
5. Dados atualizados por Leila Gusmão, supervisora do HCC Digital em 4 de abril de 2005.
6. PEACE, Albert Lister. Em: MCCUTCHAN, Robert Guy. Our hymnody. 2ª ed. Nashville, TN: Abingdon Press, 1937. p.345.