Lutero, Hinólogo e Hinógrafo – Rolando de Nassau

Lutero, hinólogo e hinógrafo
(Especial para “Hinologia Cristã”)

Martinho Lutero

A Hinologia foi valorizada na Antiguidade por Ambrósio de Milão (339-397) na forma de estudos da Salmodia antifônica.

Martin Luther (1483-1546) examinou os hinos latinos medievais para criar um repertório de “lieder” (cânticos) germânicos (ver: Blume, Friedrich. Protestant Church Music – A History. London: Gollancz, 1975).

Lutero primeiramente estudou o hino “Veni redentor gentium”, traduzido em 1523 com o título alemão “Nu kom, der Heyden heyland”; depois, o hino “Veni Creator Spiritus”, traduzido em 1524 como “Kom Gott, schepfer heiliger geyst”.

Somente então interessou-se pela Hinografia.

Lutero era orientado pela ideia de cantar o Evangelho com entusiasmo, em sua própria língua, tendo a congregação reunida. O canto congregacional seria a resposta à pregação do Evangelho. Haveria a síntese entre o Cantochão romano e o “Volkslied” (canto popular) germânico, a ser realizada no lar, na escola e no templo (ver: Block, Johannes. Verstehen durch Musik, 2002).

De acordo com Lutero, a pregação do Evangelho deve ser a explicação da Palavra de Deus. Até a Reforma, o “Ordinarium missae” católico romano ocupava um lugar muito importante na liturgia; com Lutero, as leituras de trechos de uma Epístola e de um Evangelho tiveram a primazia (ver: Dürr, Alfred. As cantatas de Bach. Bauru, SP: Edusc, 2014).

Lutero quis colocar a Música depois da Teologia, usando a Monodia e a Polifonia, a tradição oral e a cultura erudita. Ele prestigiou a Monodia e criou a Cantoria (“Kantorei”). A Teologia seria estimulada pelo Canto (“Geystliche gesangk Buchleyn” – Pequena Coleção de Cânticos Espirituais).

É oportuno lembrar que na Igreja Católica Romana persistia a regra litúrgica que atribuía o canto somente ao clero.

Em 1530, Lutero afirmou que depois da Teologia viria a Música; a Teologia (pregação) e a Hinologia (canto) deveriam ser ensinadas nos seminários.

Lutero cultivou a Hinologia em sua infância, formação escolar e universitária, experiência monástica e atividade reformadora da Igreja (ver: Ebeling, Gerhard. Luther – Introduction a une réflexion théologique. Genève: Labor et Fides, 1983).

No seu lar eram usados os hinos do “Volkslied” (canto popular); durante seus estudos participou de um “Kurrende” (coro infantil) e de um círculo de pesquisadores, além de tomar conhecimento da “Ars musica” (matéria curricular); no mosteiro praticou a Salmodia contida pelo Cantochão e escreveu comentando o Saltério; em sua opinião, a Escolástica deveria conceder espaço digno à Música, com o argumento de que o Evangelho era para ser ouvido, e não visto. Por isso, a Cristologia deveria ser um estímulo ao estudo dos ensinos de Jesus (ver: Hollanda, Roberto Torres. Os ensinos de Jesus. 1ª. tiragem, Brasília, DF, 2022).

Lutero compôs 38 cânticos, realizando uma síntese do repertório medieval, sacro e profano (ver: Doc.JB-720, de 02 set 2007; Doc.HC-20, de 16 out 2015, atualizado em 14 jun 2018).

Em 1523, fez um apelo aos poetas para que escrevessem hinos e cânticos, tomando como modelo os Salmos (ver: Ottinger, Rebecca Wagner. Music as propaganda in the German Reformation. Aldershot: Ashgate Publishing, 2001).

Em 1529, Joseph Klug (? – 1552) publicou o primeiro “Kirchengesangbuch”  (livro de cânticos da Igreja) destinado ao canto congregacional; foi reeditado quatro vezes.

Como demonstramos, Lutero, em 1523, depois da Hinologia, dedicou-se à Hinografia.

Em 1545, pouco antes do seu falecimento, prefaciou “Geystliche Lieder und Psalmen” (Cânticos Espirituais e Salmos), texto-base do novo canto congregacional reformado.

O herdeiro direto da Hinologia e da Hinografia luterana é Johann Sebastian Bach (1685-1750) (ver: Lyon, James. JSB – Chorals – Sources hymnologiques – textes, melodies et theologies. Paris: Beauchesnes, 2005; Martin Luther, foundateur de l’hymnologie moderne. “Foi et Vie”, révue de l’ Université de Paris – Sorbonne.

Em 1736, embora estivesse ocupado na revisão da “Paixão, segundo São Mateus”, Bach contribuiu com três melodias (BWV-452, 478 e 505) para o “Musicalisches Gesang-Buch”, de Georg Christian Friedrich Schemelli, que eram cânticos espirituais, anotados em 1725 por Anna Magdalena Bach (ver: Wolff, Christoph. Bach Family. London: MacMillan, 1980).

Ao comporem seus hinos e cânticos os compositores protestantes e evangélicos consultam a Hinologia?

Rolando de Nassau.

Brasília, DF, 28 de abril de 2023.

Doc.HC-146

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