HCC 153 – Já refulge a glória eterna de Jesus
História
153. Já refulge a glória eterna de Jesus
“Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém; vem, Senhor Jesus“
(Apocalipse 22.20).
FOI NO OUTONO de 1861 que a escritora Julia Ward Howe e seu marido, um médico a serviço do governo dos Estados Unidos, mudaram-se para Washington D.C., capital.
Julia, abolicionista, mas pacifista, angustiou-se ao ver a atmosfera de ódio e as preparações frenéticas para uma guerra entre os Estados. Dia após dia as tropas passaram por sua porta, cantandoJohn Brown’s body (O corpo de John Brown), canção de melodia contagiante que contava a história da morte de John Brown, com alguns dos seus filhos, num violento esforço individual de acabar com a escravidão. Um dia, enquanto ouviam as tropas cantando, um visitante do casal, o pastor da sua igreja anterior, conhecendo a sua habilidade de poetisa, virou-se para Julia e a desafiou:
– Porque a senhora não escreve palavras decentes para aquela melodia?
– Farei isto! – respondeu Julia.
As palavras vieram a ela antes do novo amanhecer.
A senhora Howe relata:
Acordei na penumbra da madrugada, e enquanto esperava a aurora, as linhas do poema começaram a se entrelaçar na minha mente. Disse a mim mesma, “Preciso me levantar e escrever estes versos, para não tornar a dormir e perdê-los!” Então me levantei e no escuro achei uma pena desgastada, que me lembrei de ter usado no dia anterior. Rabisquei os versos quase sem olhar o papel.1
Assim nasceram palavras “decentes” e empolgantes para aquela melodia muita conhecida, que surgira nos camp meetings (ver HCC 190) do Sul, anos antes da guerra civil.2 Em pouco tempo, todo o Norte estava cantando a letra de Julia Ward Howe. O hino foi publicado no periódico mensal Atlantic monthly (Revista mensal atlantic) em Boston, Estado de Massachusetts, em fevereiro de 1862. Conta-se que a primeira vez que o Presidente Lincoln ouviu o hino, chorou e pediu: “Cante-o mais uma vez!”3
Ao longo dos anos, o hino perdeu qualquer resquício de partidarismo e tornou-se um dos hinos mais amados dos Estados Unidos. Arranjos maravilhosos deste hino foram feitos por compositores de renome e cantados nos momentos mais solenes do país. Foi cantado na posse do Presidente Lyndon Johnson, e, tornando-se internacional, no culto funerário de Winston Churchill4, como planejado por ele mesmo.
Julia Ward Howe, (1819-1910) nascida em Nova Iorque numa família de distinção, se unia com seu marido, o Dr. Samuel Gridley Howe, em obras humanitárias. Foi pioneira no movimento para o voto feminino, abolicionista ardente, pacifista e muito ativa nas obras sociais. Tornou-se oradora destacada de muita influência. Em 1870, organizou uma cruzada com este alvo: que as mulheres do mundo se organizassem para acabar com a guerra de uma vez por todas. Pregava freqüentemente na sua denominação e em outras. Julia publicou, entre outros escritos, três volumes de poesia. Em 1910, doze dias antes da sua morte, foi lhe conferido um Doutorado em Direito (honoris causa) em homenagem às suas muitas realizações humanitárias.
Nas mãos do inesquecível Ricardo Pitrowsky este hino tornou-se um hino triunfante da volta de Jesus, assunto que empolgava este servo de Deus. Sua excelente adaptação da letra de Julia Ward Howe fizeram o hino amado em toda a nação brasileira. Ao fazê-la Pitrowsky escreveu:
Este hino é a expressão da gloriosa esperança da segunda vinda de Jesus a este mundo, para ser, no fim, vitorioso sobre todas as forças do maligno. Isto nos dá coragem para proceder na sua obra.5
(Ver dados de Ricardo Pitrowsky no HCC 114)
O nome desta melodia americana BATTLE HYMN (Hino da batalha), vem das primeiras palavras do título do hino no original.
1. HOWE, Julia Ward. Em: OSBECK, Kenneth W. 101 hymn stories. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1982, p.35.
2. NATHAN, Hans. no livro A history of song, chama este hino de “hino de William Steffe para o movimento Sunday-School(Escola Dominical)”, sem perceber que a melodia não escrita nascera anteriormente nos camp meetings. Nathan continua: “este gênero religioso foi ocasionalmente cultivado por escritores de cânticos seculares, [como no caso de Tramp! Tramp! Tramp!, de G.F. Root]. (NATHAN, Hans. Em: STEVENS, Denis, ed. New York: W.W. Norton & Company Inc., 1960, p.421) Dessa mesma maneira foi apropriada para a canção de guerra que a autora desse hino ouviu.
3. OSBECK. Ibid.
4. Famoso primeiro ministro da Grã Bretanha, líder, herói internacional e historiador da 2ª. Guerra mundial.
5. PITROWSKY, Ricardo. Em: PAULA, Isidoro Lessa de. Early hymnody in brazilian baptist churches. Fort Worth: School of Church Music, Southwestern Baptist Theological Seminary, 1985. p.177.