“Graças dou” – Especial para o “Dia de Ação de Graças”.
Todos os anos, durante a 4ª quinta-feira de novembro, é celebrado nos Estados Unidos o “Dia de Ação de Graças” (Thanksgiving Day). Sua origem remonta ao século XVI, na colônia de Plymouth, Massachusetts, no ano de 1620. Um ano depois (1621), após rigorosos invernos os colonos fundadores da vila realizaram uma festa em comemoração à colheita de alimentos daquele ano.
A fim de repetir o agradecimento pelas colheitas, o governador da vila organizou a “Festa no Outono” entre os colonos ingleses e americanos nativos da tribo Wampanoag. Os pratos da festa variavam desde milho e peixe a patos e perus. Após este momento de união entre colonos e índios, passou-se a celebrar este dia regularmente com o intuito de agradecer a Deus pela boa safra ou outras bênçãos e vitórias concedidas.

Apesar de o “Dia de Ação de Graças” ter sido instituído como data festiva nos Estados Unidos pelo presidente Abraham Lincoln, em 1863, apenas em 1941 o dia passou a ser feriado nacional. Sua celebração atualmente inclui festas, orações e desfiles. O prato principal é o peru, o que rendeu ao feriado o apelido de “Dia do Peru” (Turkey Day).
Trata-se de uma festa tradicional nos Estados Unidos e no Canadá (celebrada em data diferente), bem como em outros países como Holanda, Libéria, Ilha Norfolk (Austrália) e Granada.
Pouca gente sabe, mas esta data também está presente no calendário brasileiro. O evento foi instituído por meio da Lei nº 781, de 17 de agosto de 1949, pelo presidente Eurico Gaspar Dutra.
Em 1966 a data foi alterada para a quarta quinta-feira do mês de novembro e permanece assim até os dias atuais. Houve, inclusive, projetos apresentados, como o Projeto de Lei n.º 4.116, de 1980 (de Erasmo Dias) que objetivava oficializar o hino “Graças Dou” para comemorar o “Dia Nacional de Ação de Graças”, instituído pela Lei n.º 5.110, de 22 de setembro de 1966.
No Brasil, a data é comemorada principalmente por algumas igrejas protestantes de tradições norte-americanas, como a Igreja Metodista e a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, além de algumas congregações luteranas e batistas.[1]
É por causa disso, que decidimos contar a história (resumidamente) de um dos hinos de gratidão mais queridos pela hinódia brasileira e mundial – “Graças dou”.
De acordo com J. Irving Erickson, muito poucos cânticos de herança sueca se tornaram mais populares do que “Tack, O Gud, för vad du (som) varit”.[2] A letra foi escrita por August Ludvig Storm (1862-1914), um oficial do Exército da Salvação, e publicada pela primeira vez no Stridsropet (The War Cry – “O Grito de Guerra”), em 5 de dezembro de 1891.

Cada uma das quatro estrofes começa com a palavra “thanks” (“graças”) e declara uma das várias coisas pelas quais o autor expressa gratidão a Deus. Storm agradece a Deus pela “escuridão e dias sombrios” assim como pela “agradável primavera”; pela “dor” assim como pelo “prazer”; pelos “espinhos” assim como pelas “rosas”. Apesar de ter sido escrito depois de uma grave doença que o deixou dolorosamente incapacitado, Storm conseguiu escrever um poema um ano antes da sua morte em que agradece a Deus pelos anos de calma e tranquilidade e pelos anos de dor.
A canção apareceu no hinário do Exército da Salvação com uma melodia galesa. O texto foi publicado no Hemlandsklockan, em 1900, com uma nota indicando que deveria ser cantado com uma melodia de August Elfåker. Só em 1910, o compositor Johannes Alfred Hultman (1861-1942) o publicou com a sua própria melodia no Solskenssånger; a melodia realmente agradou e, depois disso, foi incluída em hinários gratuitos nos Estados Unidos e na Suécia.[3]
A melodia Tack o Gud (“Graças a Deus”), tal como outras melodias suecas, recebe o nome das primeiras palavras do hino.

O hino foi traduzido para o português por Alice Ostergren Denyszczuk (século XX) através da letra em inglês “Thanks to God” e recebeu o título de “Graças dou”.
Edith Mulholland menciona um relato do maestro João Wilson Faustini sobre a tradutora Alice Denyszcuk:
“Durante algum tempo, Alice cantava Graças dou por esta vida em programas evangélicos de televisão em São Paulo, com o seu pequeno coro. Como são poucos os hinos de “Ações de Graças” e a melodia é fácil e intuitiva, era natural que logo se popularizasse.
Quando estava a preparar os originais do Seja Louvado em 1971, procurei-a para que me autorizasse a usar a sua tradução feita em 1961, para a incluir neste novo hinário, visto que ainda não havia sido publicada. [Alice] foi muito amável e trabalhámos juntos por alguns minutos tentando melhorar uma acentuação e outra. Seja Louvado foi publicado em 1972, em São Paulo”.[4]
O hino logo se popularizou na hinódia brasileira, se espalhando pelo repertório de alguns dos hinários mais famosos do país. Atualmente corresponde ao nº 419 do Hinário para o Culto Cristão; nº 597 da Harpa Cristã; nº 222 do Hinário Luterano; nº 61 do Hinário Presbiteriano Novo Cântico etc. Este hino de gratidão nos faz lembrar das palavras do apóstolo são Paulo:
“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.
I Tessalonicenses 5.18
Neste Dia de Ação de Graças agradeça a Deus por tudo!
“Graças dou”
Graças dou por esta vida: pelo bem que revelou
Graças dou pelo futuro, e por tudo que passou
Pelas bênçãos derramadas, pela dor, pela aflição
Pela graça revelada! Graças dou pelo perdão
Graças pelo azul celeste e por nuvens que há também
Pelas rosas do caminho, por espinhos que elas têm
Pela escuridão da noite, pela estrela que brilhou
Pela prece respondida, pelo sonho que falhou
Pela cruz e o sofrimento e por toda provação
Pelo amor que é sem medida, pela paz no coração
Pela lágrima vertida, pelo alivio que é sem par
Pelo dom da eterna vida, sempre graças hei de dar!
Texto escrito em 27 de novembro de 2025,
por Gabriel Francisco da Silva Santana
(colaborador do site Hinologia Cristã).
Usado com permissão.
Copyright © 2025 de Gabriel Francisco da Silva Santana
Notas de rodapé:
[1] Leia mais em: https://veja.abril.com.br/cultura/como-surgiu-o-dia-de-acao-de-gracas-celebrado-nesta-quinta-feira-27/ Acesso em 27 de novembro de 2025.
[2] Como por exemplo o conhecidíssimo hino O Store Gud (conhecido no Brasil como, “Grandioso És Tu”).
[3] ERICKSON, John Irving. Sing It Again!, p. 220. Chicago, Illinois: Covenant Press, 1985.
[4] MULHOLLAND, Edith Brock. HCC Notas Históricas: Se os Hinos Contassem, pp. 322-323. Rio de Janeiro: JUERP, 2001.









