Robert Kalley (1809-1888)
Robert Reid Kalley (1809-1888)
“Pioneiro do Protestantismo Missionário na Europa e nas Américas”
Introdução
Ao escreverem sobre a implantação da fé protestante em países do terceiro mundo, os estudiosos têm feito uma distinção que aponta para duas modalidades desse fenômeno: o “protestantismo de imigração”, representado por imigrantes protestantes normalmente procedentes da Europa central e setentrional, os quais tenderam a restringir as suas práticas religiosas ao seu próprio grupo étnico, e o “protestantismo de missão”, representado por indivíduos e organizações da Europa e dos Estados Unidos que trabalharam naqueles países com a intenção expressa de angariar adeptos e plantar igrejas entre a população nacional. O médico escocês Robert Reid Kalley é um notável pioneiro dessa segunda modalidade, tendo sido o primeiro missionário protestante a atuar com êxito em várias regiões de língua portuguesa dos dois lados do Atlântico, apesar dos formidáveis obstáculos que teve de enfrentar. Personagem controvertido e polêmico, caracterizado por um espírito empreendedor e independente, Kalley exerceu uma influência profunda e duradoura sobre o protestantismo luso-brasileiro, em diferentes aspectos.
Apesar de Kalley ter se tornado uma figura quase lendária na história do protestantismo brasileiro, alguns aspectos da sua vida, obra e peculiaridades são ainda pouco conhecidos. Daí a oportunidade e relevância de reconsiderar esse pioneiro, visto ter transcorrido recentemente o sesquicentenário da sua chegada ao Brasil (2005). O artigo começa por mostrar as circunstâncias que levaram Kalley da sua Escócia natal à pequena Ilha da Madeira, no Oceano Atlântico. Em seguida, observa-se como a tremenda oposição surgida contra o missionário e seus conversos teve um desfecho não antecipado nem pretendido pelos perseguidores: a difusão da fé evangélica em outras terras. São apontados os fatores que trouxeram Kalley ao Brasil, bem como as influências sofridas e as mudanças experimentadas por ele ao longo da sua caleidoscópica história de vida. Conclui-se com uma avaliação das principais contribuições do personagem, bem como de algumas de suas idiossincrasias pessoais e teológicas.[1]
1. De Glasgow à Ilha da Madeira
Robert Kalley nasceu em Mount Florida, um subúrbio de Glasgow, Escócia, no dia 8 de setembro de 1809. Foi batizado aos oito dias de vida na tradicional e antiga Igreja da Escócia (Presbiteriana).[2] Seu pai, um próspero comerciante e dedicado membro da igreja, faleceu um ano mais tarde. Sua mãe voltou a casar-se, mas morreu em 1815, deixando o filho para ser criado pelo padrasto. Este também era membro da igreja e desejou que o jovem seguisse a carreira ministerial. Aos vinte anos, em agosto de 1829, Robert diplomou-se cirurgião e farmacêutico pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de Glasgow, tendo feito os seus estudos práticos no Hospital Real da mesma cidade. Aceitou um emprego de médico de bordo em duas viagens a Bombaim, na Índia, tendo a oportunidade de visitar muitos portos, inclusive Funchal, na Ilha da Madeira. Sentiu em primeira mão a grande necessidade de médicos no Oriente.[3]
Em 1832, Kalley começou a praticar a medicina em Kilmarnock, a cerca de 30 km de Glasgow, onde se destacou pela sua competência e veio a prosperar financeiramente. Desde a juventude havia sido um incrédulo e agnóstico, tendo sido influenciado pelos escritos do deísta Thomas Paine (1737-1809) e outros autores. Todavia, a atitude de uma paciente cristã, que enfrentou grandes sofrimentos com serenidade e fé, bem como as conversas que teve com ela, levaram o jovem médico a reconsiderar as asserções do cristianismo. O estudo da Bíblia, especialmente das profecias relativas aos judeus e à Palestina, levou-o à conversão e a um interesse pela evangelização dos judeus. Outro fato marcante daqueles anos de transição foi a morte de Robert Morrison (1782-1834), missionário de origem escocesa e presbiteriana, ligado à Sociedade Missionária de Londres, que foi o pioneiro protestante na China (Cantão).
Kalley sentiu que a morte de Morrison representava um desafio e um chamado para ele. Ofereceu os seus serviços à Junta de Missões da Igreja da Escócia como médico missionário e evangelista, mas a junta não o aceitou pelo fato de a China não estar incluída entre os seus campos missionários. Buscou então a Sociedade Missionária de Londres[4], que em fins de novembro de 1837 o admitiu como médico missionário para a China. Foi instruído a embarcar para o campo em 1839, devendo fazer, no ínterim, novos estudos médicos, além de estudos teológicos. Fechou o seu consultório médico e matriculou-se na Universidade de Glasgow, obtendo o grau de doutor em medicina em abril de 1838. Todavia, dois meses após a sua nomeação como missionário, ele havia ficado noivo de Margaret Crawford, de Paisley, cuja frágil saúde a desqualificava para o trabalho na China. A nomeação foi suspensa até uma ocasião oportuna.
Embora a China ainda estivesse nos seus planos, a deterioração da saúde da esposa fez com que Kalley planejasse levá-la por uns tempos para a Ilha da Madeira, cujo clima o havia encantado. Chegaram a Funchal no dia 12 de outubro de 1838. Naquela cidade havia uma grande colônia de escoceses ligada à indústria do vinho e mais tarde Kalley foi eleito presbítero da Igreja Presbiteriana Escocesa ali existente. Logo que chegou, sentiu-se desafiado a empregar as suas aptidões e recursos para auxiliar a população pobre e analfabeta da ilha, e anunciar-lhe o evangelho. Resolveu estudar a língua portuguesa e seguiu para Lisboa, onde, em 17 de junho de 1839, depois de ter sido examinado pela Escola Médico-Cirúrgica daquela cidade, foi habilitado para exercer a medicina nos territórios de Portugal. Seguiu então para Londres, para contatos com a Sociedade Missionária, à qual pedira que o ordenasse pastor e o nomeasse como seu agente na Ilha da Madeira. A Sociedade aprovou a sua ordenação, mas não o aceitou como agente por ainda não ter trabalho naquela ilha. Apesar de não ter feito estudos formais de teologia, sendo aparentemente um autodidata nessa área, Kalley foi aprovado nos exames e ordenado no dia 8 de julho de 1839 por seis ministros presbiterianos ligados à Sociedade. Estes agiram em sua capacidade individual, sem representar uma denominação.[5] Em outubro do mesmo ano, ele retornou à Ilha da Madeira.
Em 1840, Kalley abriu um pequeno hospital com doze leitos em Funchal, com farmácia e consultório grátis para os pobres. Quase cinqüenta pessoas o consultavam diariamente. As consultas eram precedidas por um pequeno culto em que ele lia e explicava as Escrituras e fazia uma oração. Seguia a mesma prática quando visitava os pacientes nos seus lares. Ao mesmo tempo, utilizando recursos próprios e de amigos, abriu escolas diurnas para as crianças e noturnas para os adultos em vários pontos da ilha, nas quais as pessoas aprendiam a ler e eram instruídas nas Escrituras. Nessas escolas mais de 2000 pessoas aprenderam a ler, nos seis anos em que elas funcionaram. Nesse período, Kalley compôs os seus primeiros hinos e escreveu os seus primeiros tratados evangélicos para o povo. Milhares de exemplares das Escrituras foram distribuídos. Aos domingos, grandes grupos reuniam-se nas montanhas para ouvir a pregação do Evangelho e cantar os apreciados “hinos calvinistas”.[6]
2. O espectro da perseguição
A princípio, as autoridades elogiaram o Dr. Kalley pelas suas atividades filantrópicas, registrando em ata, em maio de 1841, a sua gratidão ao “bom doutor inglês”. O povo, reconhecendo os seus serviços, chegou a denominá-lo “o santo inglês”. O ano de 1842 foi particularmente frutífero no trabalho educacional e evangelístico. Porém, no final de janeiro do ano seguinte a hostilidade latente do clero deu início a um movimento anti-herético que, com a cooperação das autoridades civis, rapidamente assumiria proporções assustadoras.[7] Vale lembrar que essas reações antiprotestantes resultaram em parte do caráter conservador de uma comunidade isolada, religiosamente homogênea, como a pequena Ilha da Madeira. Por outro lado, a igreja católica européia vivia um de seus períodos mais conturbados, em que o forte sentimento tridentino e ultramontano da Contra-Reforma fora reforçado ainda mais pela Revolução Francesa e suas conseqüências. O papa então reinante, Gregório XVI (1831-1846), caracterizou-se por seu espírito reacionário e intolerante, manifestando-se fortemente contra os valores da modernidade, tais como a democracia, a liberdade religiosa e a separação entre a Igreja e o Estado.[8] Essa atitude não sofreria alteração durante o longo pontificado do seu sucessor, Pio IX (1846-1878).
Na Ilha da Madeira, as autoridades sucessivamente ordenaram o fechamento das escolas evangélicas, proibiram o Dr. Kalley de exercer a medicina e de realizar cultos domésticos e, invocando uma lei inquisitorial de 1603, o prenderam por seis meses sem direito a fiança (julho de 1843 a janeiro de 1844). Ele tinha a permissão de receber três visitantes de cada vez, mas não podiam cantar hinos e ler as Escrituras. Sob a liderança do cônego Carlos Telles de Meneses, houve um grande esforço no sentido de suprimir o movimento evangélico, do qual resultou a prisão de muitos crentes sob acusações de apostasia, heresia e blasfêmia. Uma pobre mãe de sete filhos, Maria Joaquina Alves, ficou presa durante dois anos e meio (janeiro de 1843 a maio de 1845). Foram terminantemente proibidas a posse e a leitura da Bíblia, embora a versão distribuída fosse a do padre Antônio Pereira de Figueiredo. Após a sua libertação, o Dr. Kalley prosseguiu com o seu trabalho de modo mais limitado e cauteloso, concentrando-se na localidade de Santo Antônio da Serra, onde aos domingos chegavam a reunir-se seiscentas pessoas. Teve o apoio incondicional da Igreja Escocesa de Funchal e de um missionário recém-chegado, o Rev. William Hepburn Hewitson.[9] Em 23 de março de 1845, na casa pastoral da Igreja Escocesa, a Ceia do Senhor foi celebrada pela primeira vez em português segundo a liturgia presbiteriana. Pouco depois, em 8 de maio, foi organizada sob a liderança do Rev. Hewitson a primeira igreja presbiteriana portuguesa, com mais de sessenta membros comungantes, sendo eleitos vários presbíteros e diáconos.
Após passar alguns meses na Escócia, onde falou sobre as suas experiências à Assembléia Geral da Igreja da Escócia em agosto de 1845, Kalley e sua esposa retornaram à Ilha da Madeira. Nos meses seguintes se desencadearam novas perseguições com fúria ainda maior. Os evangélicos continuaram sendo presos, espancados, apedrejados e alguns tiveram suas casas queimadas. Ressoavam na imprensa e outros meios clamores de morte contra os protestantes. Uma série de artigos aparecidos no jornal O Imparcial foi publicada sob o título “Revista histórica do proselitismo anticatólico exercido na Ilha da Madeira pelo Dr. Roberto Reid Kalley, médico escocês, desde 1838 até hoje”. Kalley escreveu uma resposta a esse panfleto acusatório contra os evangélicos, resposta essa que foi publicada em Lisboa e circulou ali e na Ilha da Madeira em julho de 1846. Essa controvérsia aberta parece ter sido o estopim da explosão final, no mês seguinte.[10]
No dia 2 de agosto, um bando chefiado pelo cônego Telles atacou a casa de algumas senhoras inglesas onde cerca de quarenta madeirenses, na maior parte mulheres, haviam se reunido para o culto. Vidros e portas foram quebrados, mas a chegada da polícia impediu que fosse causado dano físico às pessoas reunidas. Nos dias seguintes, muitos “calvinistas” no interior da ilha tiveram suas casas atacadas e sofreram toda sorte de indignidades. O Rev. Kalley tornou-se o alvo principal dos perseguidores e multiplicaram-se ferozes ameaças de morte contra ele. Seus apelos ao cônsul britânico e às autoridades locais foram recebidos com frieza. Na manhã do dia 9, um domingo, a Sra. Kalley foi levada sob disfarce para a residência do cônsul, que havia ido para a sua casa de campo. Disfarçado como uma mulher enferma, o Dr. Kalley foi conduzido em uma rede para uma chácara e dali, antes do raiar do dia 9, foi levado para o navio inglês “Forth”, ancorado na baía de Funchal. Sua casa, móveis, equipamento médico, biblioteca e manuscritos foram todos destruídos em um incêndio, cuja fumaça ele pôde ver do navio. O hospital foi saqueado e muitas das escolas do interior foram queimadas, bem como todas as Bíblias e literatura evangélica que foram encontradas.
Naquela mesma noite, o navio partiu para Trinidad, nas Antilhas (Caribe), onde o Dr. Kalley encontrou a esposa e, juntos, seguiram para a Inglaterra. Nas semanas seguintes à partida do missionário, seus discípulos, acossados, ameaçados e maltratados, também tiveram de fugir para salvar a vida. Os incidentes da Madeira coincidiram com um plano inglês de recrutar trabalhadores para as ilhas de Trinidad, Antigua e St. Kitts, e alguns navios ingleses em busca de trabalhadores haviam chegado a Funchal naquele mesmo mês. No dia 23, duzentos refugiados religiosos partiram a bordo do “William”, levando apenas a roupa do corpo. Dias depois, mais de quinhentos os seguiram no “Lord Seaton” e nos meses seguintes muitos outros abandonaram os seus lares, buscando liberdade de culto do outro lado do oceano. Estima-se que mais de dois mil evangélicos deixaram a sua ilha na perseguição de 1846.
Surpreendentemente, o movimento evangélico na Madeira não foi inteiramente suprimido e, em 1853, uma nova leva de emigrantes calvinistas partiu para o Novo Mundo. A partir de 1875, em um clima de maior tolerância e com o apoio da Igreja da Escócia, várias igrejas presbiterianas foram formadas naquela ilha, que continuaram em existência ao longo do século 20.[11] Com o apoio de igrejas norte-americanas, muitos dos madeirenses que se fixaram nas Antilhas, bem como os emigrados de 1853, foram para os Estados Unidos, estabelecendo-se nas cidades de Springfield e Jacksonville, no Estado de Illinois.[12] As igrejas que formaram eventualmente filiaram-se à Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América, a Igreja do Norte (PCUSA), e deram uma importante contribuição para o início dos trabalhos congregacional e presbiteriano no Brasil.
3. Interregno e transferência para o Brasil
Depois de passar algum tempo na Escócia e na Inglaterra, Kalley trabalhou como médico missionário durante dois anos na Ilha de Malta e outros dois na Palestina (1850-1852). Em Safed, organizou uma pequena igreja na qual metade dos participantes era constituída de judeus convertidos e a outra metade de ex-muçulmanos e nestorianos.[13] Sua primeira esposa, Margaret, veio a falecer no início de 1852. No final daquele ano, ele contraiu segundas núpcias com Sarah Poulton Wilson (1825-1907), a quem conhecera na Palestina. Sarah nasceu em Nottingham, Inglaterra, sendo sobrinha pelo lado materno de Samuel Morley, rico industrial e filantropo, membro destacado do Parlamento Britânico e líder da igreja congregacional.[14] A família também tinha ligações com os Irmãos de Plymouth através de outro tio de Sarah, John Morley.[15]
Sarah recebeu uma educação esmerada e cultivou muitos dotes artísticos, revelados mais tarde na poesia, na pintura e na música. Foi grande defensora do nascente movimento das Escolas Dominicais. Seu trabalho evangélico teve início em Torquay, onde dirigiu uma classe bíblica que se tornou instrumento para a conversão de muitos jovens. Ela visitou a Palestina em março de 1852 em companhia de um irmão mais novo, que veio a falecer de tuberculose em Beirute.[16] Nessa viagem Sarah conheceu o Dr. Kalley, com o qual veio a casar-se em 14 de dezembro do mesmo ano. Esse casamento contribuiu para que Kalley eventualmente se afastasse de suas raízes presbiterianas e se voltasse para o congregacionalismo. Devido às suas extraordinárias qualificações, Sarah deu contribuições à obra do esposo que exigem uma análise mais detalhada do que é possível neste estudo.
No inverno seguinte (1853-1854), Kalley, acompanhado da esposa, foi visitar os amigos madeirenses em Illinois. Passando por Nova York, esteve na Sociedade Bíblica Americana, onde conversou a respeito dos refugiados portugueses. Poucos dias depois, o dirigente da Sociedade Bíblica recebeu uma carta do Rev. James Cooley Fletcher (1823-1901),[17] pastor presbiteriano que trabalhava no Rio de Janeiro para a Sociedade de Amigos dos Marinheiros Americanos, pedindo-lhe o envio de alguns refugiados madeirenses para trabalharem no Brasil como colportores da Sociedade Bíblica. Kalley foi informado sobre isso e decidiu ele mesmo vir para o Brasil no ano seguinte.
O casal Kalley partiu de Southampton em 9 de abril de 1855, chegando ao Rio de Janeiro no dia 10 de maio. Por dois meses e meio se hospedaram em hotéis, mas não encontraram um local adequado onde pudessem residir e iniciar o trabalho evangélico. No final de junho visitaram Petrópolis e ficaram bem impressionados com a cidade. Viram que havia melhor possibilidade de iniciar o trabalho missionário ali do que no Rio de Janeiro, graças ao auxílio que poderiam receber dos colonos alemães. Souberam que uma bela propriedade (Gernheim = lar muito amado) situada em uma encosta do Bairro Suíço ficaria disponível em outubro. Mudaram-se para Petrópolis em fins de julho, hospedando-se em um hotel. Tendo feito amizade com a família do embaixador americano, Sr. Webb, que ocupava Gernheim, foi-lhes permitido iniciar ali uma escola dominical. Na tarde do dia 19 de agosto, a Sra. Kalley iniciou a classe dominical com as crianças da casa e de uma família vizinha. Leram a história de Jonas, cantaram hinos[18] e oraram. Assim nasceu a primeira Escola Dominical do Brasil. Algum tempo depois foi criada uma classe de adultos, dirigida pelo Rev. Kalley. Em 15 de outubro o casal mudou-se para Gernheim. A escola dominical cresceu e no ano seguinte surgiram classes em alemão, inglês e português, para crianças de oito anos para cima.
De agosto de 1855 a maio de 1856, o Rev. Kalley escreveu várias cartas aos irmãos de Illinois, convidando-os para virem ajudá-lo no Brasil. Em dezembro de 1855 chegou William D. Pitt, que havia sido aluno de escola dominical de D. Sarah na Inglaterra, e em agosto de 1856 vieram Francisco da Gama, Francisco de Souza Jardim e Manoel Fernandes, com suas famílias. No dia 10 de agosto daquele ano, na casa alugada por esses crentes no morro da Saúde, o Rev. Kalley oficiou pela primeira vez a Ceia do Senhor, com a presença de dez pessoas. O missionário viu desde o início a importância da literatura e convidou o Sr. Gama para trabalhar como colportor, o que este fez com muita eficiência, vendendo Bíblias e livros evangélicos. Algumas publicações foram encomendadas de Lisboa e outras produzidas pelo próprio Dr. Kalley. Ele também traduziu a famosa obra de John Bunyan, “A Viagem do Cristão” (O Peregrino), publicando-a no Correio Mercantil (outubro a dezembro de 1856) e depois em forma de livro. Também escrevia artigos religiosos nesse periódico. Ao mesmo tempo, desde que chegou a Petrópolis, Kalley procurou relacionar-se com as autoridades civis, inclusive com o imperador Pedro II, do qual se tornou amigo. Como seu vizinho, este foi visitá-lo várias vezes para ouvir sobre as suas viagens através da Palestina.
O casal Kalley partiu para a Inglaterra no dia 17 de janeiro de 1857, a fim de visitar uma tia de Sarah que se achava gravemente enferma. De Londres, onde ficaram por alguns meses, o Rev. Kalley enviou para o Rio de Janeiro uma grande quantidade de literatura. Chegaram de volta ao Brasil em 9 de outubro. Extremamente cauteloso após as perseguições sofridas na Ilha da Madeira, Kalley trabalhou dentro dos limites impostos pela lei brasileira, adotando como modelo básico de evangelização o “culto doméstico”.[19] No dia 8 de novembro, foi batizado o primeiro crente em Petrópolis, o português José Pereira de Souza Louro. No Rio, havia reuniões em português na casa de Francisco da Gama e em inglês na residência de William Pitt. Nos meses seguintes, começaram a surgir artigos na imprensa do Rio revelando preocupação com a propaganda protestante e a distribuição de “Bíblias falsas”. Um motivo a mais de inquietação para os líderes católicos eram as discussões sobre a instituição do casamento civil e outras medidas liberalizantes do governo imperial.
4. O congregacionalismo brasileiro
Em 11 de julho de 1858, Kalley batizou o seu primeiro converso brasileiro, Pedro Nolasco de Andrade, no Rio de Janeiro. Esse dia passou a ser considerado como a data da organização da “Igreja Evangélica”, mais tarde denominada Igreja Evangélica Fluminense (18-09-1863), para distingui-la da igreja presbiteriana organizada pelo Rev. Ashbel Green Simonton no início de 1862. Em Petrópolis, porém, não se chegou a organizar uma igreja, embora houvesse reuniões domésticas semanais, e os crentes ali batizados foram incorporados à igreja do Rio de Janeiro. A igreja do bairro da Saúde foi a primeira comunidade evangélica de língua portuguesa a surgir no Brasil, isto é, a primeira igreja “de missão” que conseguiu lançar raízes permanentes no país. Todas as outras igrejas existentes naquela época ou anteriormente eram constituídas de estrangeiros.[20] Kalley também continuou a exercer suas atividades como médico, prestando assistência gratuita aos pobres e oferecendo os seus serviços à comunidade, como ocorreu durante uma epidemia de cólera em Petrópolis no mesmo ano da sua chegada ao Brasil.
Outro marco importante do ministério do Dr. Kalley foi o batismo de duas senhoras de alta posição, Gabriela Augusta Carneiro Leão e sua filha Henriqueta Soares do Couto, ocorrido em Petrópolis no dia 7 de janeiro de 1859. Dona Gabriela era irmã do Marquês do Paraná e do Barão de Santa Maria. Elas haviam sido evangelizadas pelo crente pioneiro José Pereira de Souza Louro e mais tarde se transferiram para a igreja presbiteriana, na qual permaneceram até o final da vida. Esse batismo parece ter contribuído para o surgimento de pressões contra o trabalho do missionário, que em 26 de maio daquele ano foi proibido de clinicar pelo subdelegado de Petrópolis.
Mediante pressão do núncio, o governo imperial fez chegar à Legação Britânica um comunicado com diversas queixas contra Kalley, tais como propaganda de doutrinas contrárias à religião do Estado e tentativa de conversão de católicos à fé protestante. O missionário formulou uma série de quesitos sobre as suas atividades e os apresentou simultaneamente aos melhores juristas da época, os Drs. Joaquim Nabuco, Urbano S. Pessoa de Melo e Caetano Alberto Soares. Os pareceres foram altamente satisfatórios e no dia 16 de julho Kalley enviou à Legação Britânica uma resposta ao comunicado do Ministro do Governo e uma carta particular ao cônsul William Stuart explicando as suas atividades e os tipos de pessoas que freqüentavam as suas reuniões. Concluiu que a liberdade por ele exercida estava dentro dos limites da lei. Acrescentou que, caso o governo insistisse nas suas tentativas de silenciá-lo, se sentiria na direito de publicar os motivos para tanto e fazê-los conhecidos em todos os países de onde o Brasil esperava colonos.[21]
No dia 29 de agosto de 1859, Kalley defendeu tese na Escola de Medicina do Rio de Janeiro, sendo reconhecido como médico e autorizado a exercer essa profissão no Brasil. Nesse ínterim, recebeu forte apoio de brasileiros e alemães de Petrópolis, que produziram abaixo-assinados em sua defesa.[22] Kalley fez uma segunda viagem à Inglaterra de agosto de 1862 a agosto de 1863. Pretendia tratar do joelho que havia ferido em um acidente com o cavalo, procurar uma pessoa para ajudá-lo no seu trabalho e visitar a Palestina. Antes da sua partida, a igreja elegeu os seus primeiros presbíteros. Kalley retornou ao Rio de Janeiro no início de setembro de 1863 e no dia 2 de outubro foi formalmente eleito pastor da igreja a fim de poder realizar casamentos religiosos com efeitos civis, uma importante conquista dos protestantes brasileiros.[23] Em novembro de 1865, preocupado com o fato de um membro da sua igreja possuir escravos, Kalley fez uma “exortação” expondo seu ponto de vista contrário à escravidão. Seu primeiro pastor-auxiliar foi o Rev. Richard Holden (1828-1886), de março de 1865 a julho de 1871.[24] Isso permitiu a Kalley fazer uma terceira viagem mais prolongada à Europa e à Palestina, ausentando-se por dois anos e meio (dezembro de 1868 a junho de 1871). Em fins de 1873, o missionário foi para Recife, onde fundou a Igreja Evangélica Pernambucana, cujo primeiro pastor residente foi o Rev. James Fanstone (1851-1937), pai do Dr. James Fanstone (1890-1987), fundador do Hospital Evangélico Goiano, em Anápolis.
Em 31 de dezembro de 1875, foi eleito co-pastor da Igreja Fluminense o Rev. João Manoel Gonçalves dos Santos, um membro da igreja que havia estudado desde 1872 no “Pastor’s College”, de Charles H. Spurgeon, em Londres. Ele haveria de pastorear a igreja por quase quarenta anos. Estando mais livre das preocupações do trabalho pastoral, o Rev. Kalley pode dedicar-se à preparação de uma súmula das doutrinas aceitas pela Igreja Evangélica Fluminense, que recebeu o título de “Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo” e foi publicada em 1876. No dia 2 de julho daquele ano, após o acréscimo de um artigo sobre a natureza de Deus (atual artigo 4), a igreja aceitou formalmente os 28 artigos, que são até hoje a base doutrinária dos congregacionais brasileiros. Em novembro de 1880, o governo imperial haveria de sancionar tanto os artigos orgânicos (estatutos) da igreja quanto a sua base doutrinária.
O Dr. Kalley partiu definitivamente para a Escócia no dia 10 de julho de 1876, vindo a falecer em Edimburgo em 17 de janeiro de 1888.[25] Até o seu falecimento, não deixou de corresponder-se com freqüência com os líderes de suas igrejas no Brasil e em outros lugares de língua portuguesa (Portugal, Madeira, Trinidad, Illinois). Foi o pai espiritual e o mentor de toda uma geração de ministros e missionários que imitaram a sua visão, zelo e dedicação. Sentiu o desejo de criar uma sociedade missionária não-denominacional para enviar obreiros ao Brasil, desejo esse cumprido por sua esposa anos mais tarde, com a criação da sociedade “Help for Brazil” (Auxílio para o Brasil), precursora da União Evangélica Sul-Americana (UESA).[26]
5. Kalley e os presbiterianos
Como já foi observado, Kalley nasceu na Igreja da Escócia e manteve ligações com o presbiterianismo durante boa parte da sua vida. As igrejas que resultaram do seu trabalho na Ilha da Madeira, onde seus discípulos eram conhecidos como “calvinistas”, bem como aquelas fundadas por refugiados madeirenses no Caribe e nos Estados Unidos, foram todas presbiterianas.[27] No Brasil, embora ele tenha sido o introdutor do congregacionalismo, suas ligações com os presbiterianos e suas contribuições diretas e indiretas à obra presbiteriana são dignas de nota.[28]
Em primeiro lugar, houve o relacionamento pessoal e direto entre Kalley e o pioneiro do presbiterianismo brasileiro, Ashbel Green Simonton. No mesmo mês em que chegou ao Brasil (agosto de 1859), Simonton visitou a igreja do bairro da Saúde e conversou com o Dr. Kalley, que em tom paternal o incentivou e lhe transmitiu conselhos e advertências.[29] Simonton passou a pregar com certa regularidade na Igreja Evangélica, até que, no mês de dezembro, surgiu um conflito entre os dois obreiros. Devido a um mal-entendido, Kalley sentiu que o colega mais jovem estava invadindo o seu campo de trabalho e expressou as suas críticas a terceiros, inclusive através de uma nota anônima. O problema foi resolvido satisfatoriamente quando, ao ser interpelado, Kalley pediu desculpas por todas as alegações levantadas, revelando, segundo o testemunho do próprio Simonton, um espírito profundamente humilde e generoso.[30] Nos anos seguintes, formaram-se laços muito estreitos entre as duas comunidades evangélicas. Em 1896, durante o pastorado do Rev. James B. Rodgers, quando o templo presbiteriano precisou de uma grande reforma, a igreja reuniu-se no templo da sua congênere durante todo o período das obras.[31]
Kalley também contribuiu com a obra presbiteriana em um sentido mais amplo, através de pessoas originalmente ligadas ao seu trabalho. Quatro líderes das igrejas portuguesas de Illinois foram notáveis missionários presbiterianos no Brasil: Emanuel N. Pires (1866-1869), Hugh Ware McKee (1867-1870), Robert Lenington (1868-1886) e João Fernandes Dagama (1870-1891).[32] Pires e McKee foram dois dos primeiros pastores da Igreja Presbiteriana de São Paulo, por breve tempo. Todavia, Lenington e Dagama tiveram longos ministérios, evangelizando extensamente o interior de São Paulo e, no caso de Lenington, também o Paraná e o sul de Minas. Outro pioneiro extremamente operoso foi William Dreaton Pitt, um inglês que estudou na escola dominical de Sarah Kalley em Torquay, trabalhou junto aos portugueses em Illinois e foi a primeira pessoa a vir para o Brasil em resposta a um apelo de Kalley. Foi um dos fundadores da Igreja Evangélica Fluminense e um dos quatro primeiros presbíteros daquela igreja. Mudando-se para São Paulo, onde trabalhou no comércio, associou-se aos presbiterianos, tornando-se um valioso cooperador do Rev. Alexander Blackford. Faleceu em 1870, poucos meses após a sua ordenação ao ministério. O ministro presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (1822-1873), ex-sacerdote e primeiro pastor protestante de nacionalidade brasileira, trabalhou durante oito meses em 1867 e 1868 nas igrejas portuguesas de Illinois, com as quais se correspondeu até o final da sua vida.
Outros elementos ligados a Kalley que prestaram o seu concurso à obra presbiteriana no Brasil foram colportores, os mais destacados dentre eles tendo sido Manoel Pereira da Cunha Bastos, que precedeu o Rev. Blackford em São Paulo, e Manoel José da Silva Viana, fundador da igreja congregacional em Recife e colaborador do Rev. John Rockwell Smith. O português Bastos, um ex-diácono da Igreja Evangélica Fluminense, tornou-se colportor da Sociedade Bíblica Americana e foi enviado a São Paulo pelo Rev. Simonton, poucos meses antes da chegada de Blackford. Evangelizou um patrício, José Maria Barbosa da Silva, seu vizinho à rua Aurora, que por sua vez foi instrumento para a conversão dos jovens portugueses Antônio Bandeira Trajano e Miguel Gonçalves Torres, dois dos primeiros pastores presbiterianos nacionais.[33] Um último exemplo de contribuição congregacional ao presbiterianismo brasileiro foram alguns membros das igrejas de Kalley que se filiaram à igreja presbiteriana, dentre os quais se destacam as já citadas Gabriela Augusta Carneiro Leão e sua filha Henriqueta Soares do Couto. Henriqueta veio a casar-se com o irlandês William Esher e foi membro sucessivamente das Igrejas do Rio e de São Paulo. Foi mãe do Dr. Nicolau Soares do Couto Esher (1867-1943), conhecido médico e primeiro presidente da Associação Cristã de Moços do Rio e de São Paulo.[34] As ligações entre congregacionais e presbiterianos no Brasil se explicam pelo fato de, por muitos anos, esses terem sido os únicos representantes do protestantismo missionário no país, bem como pelas suas afinidades históricas e doutrinárias.
6. Peculiaridades pessoais e teológicas
Ao se avaliar a personalidade e contribuições desse missionário pioneiro, vários pontos merecem consideração, a começar do fato de que ele era movido por um profundo senso de vocação e de compromisso com a evangelização de outros povos. Ao deixar o conforto de sua terra natal e buscar o bem-estar material e espiritual desses povos, Kalley procurou identificar-se com as culturas em que trabalhou, embora não tenha se libertado de vários condicionamentos que afetavam a maior parte dos missionários europeus e americanos da época. Um exemplo disso era a sua tendência paternalista, própria de alguém que se considerava pertencente a uma cultura superior e que tinha, portanto, algo a transmitir a pessoas menos instruídas. Ele pagava as contas, administrava os fundos, decidia o que era heresia ou não, estabelecia as metas e era a instância final de apelação para todos os problemas,[35] mas não teve muita preocupação em preparar líderes para substituí-lo. As suas igrejas ficaram excessivamente dependentes dele e experimentaram pequeno crescimento após o seu afastamento e morte.
Outra razão para o pequeno crescimento da obra congregacional foi o isolamento inicial das comunidades, ciosas do princípio da plena autonomia da igreja local. Cinqüenta e cinco anos após a criação da Igreja Evangélica Fluminense (1858) havia somente treze igrejas organizadas no país. Foi só então, em 1913, que os congregacionais começaram a criar uma estrutura nacional, realizando a sua primeira convenção geral. Em termos de comparação, os presbiterianos, cuja primeira igreja foi organizada em 1862, já possuíam cerca de sessenta comunidades por ocasião da criação do Sínodo (1888) e em 1910, época da organização da Assembléia Geral, o número de igrejas haviam subido para 150, apesar das grandes perdas sofridas com o cisma independente de 1903.
Curiosamente, embora tivesse um forte sentimento anticatólico, Kalley demonstrou algumas vezes uma atitude positiva para com certos representantes da igreja majoritária, tendo se tornado amigo do bispo de Funchal e de um sacerdote culto do Rio de Janeiro. No Brasil, ao menos por algum tempo, ele não exigiu o rebatismo dos seus conversos, a não ser que o solicitassem explicitamente. Todavia, sua “Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo”, adotada como padrão doutrinário das igrejas congregacionais no Brasil, parece apontar em seu artigo 25 para o batismo de adultos somente.[36] Segundo o Rev. James Fanstone, Kalley se sentia inquieto quanto à validade do seu próprio batismo e no final da vida teria considerado seriamente a possibilidade de submeter-se ao batismo por imersão.[37] As noções de Kalley acerca da Ceia do Senhor são mais zuinglianas do que calvinistas: o sacramento é antes uma comemoração da morte de Cristo no passado distante e um testemunho ao mundo do que a alegre celebração da sua presença viva e do seu sacerdócio atual.[38] Outra característica de Kalley era a sua forte ênfase à santidade do domingo: ninguém era admitido como membro da igreja se não o observasse criteriosamente, mantendo-se afastado das atividades seculares.[39]
Seu uso da medicina e da educação como meios de serviço cristão e instrumentos para a evangelização continua válido até hoje. Outras estratégias que utilizou também se revelaram muito eficazes e exerceram uma influência duradoura sobre o protestantismo luso-brasileiro: reuniões informais nos lares; distribuição ampla das Escrituras (na tradução católica do padre Figueiredo) e de literatura cristã; uso da imprensa diária para a publicação de artigos e livros (como fez no Rio de Janeiro ao publicar O Peregrino, de John Bunyan); produção de hinos visando a instrução dos crentes e a evangelização (hinos esses utilizados por muitas gerações de evangélicos)[40]; treinamento de líderes leigos como colportores e evangelistas. Os esforços de Kalley no sentido de ter um bom relacionamento com as autoridades civis e outros líderes destacados, especialmente no Brasil, onde chegou a fazer amizade com o próprio imperador, expandiram os limites da liberdade religiosa e ajudaram a preparar as condições para a introdução e rápido crescimento do protestantismo.
Formalmente, Kalley permaneceu um presbiteriano toda a sua vida. Todavia, a sua personalidade e experiências contribuíram para torná-lo um obreiro auto-sustentado que nunca trabalhou sob os auspícios de qualquer denominação ou agência missionária. Seus conversos da Ilha da Madeira abraçaram o presbiterianismo nos diferentes países em que viveram graças, principalmente, ao apoio fiel e decidido da Igreja da Escócia. Todavia, no Brasil ele veio a adotar a forma de governo congregacional. Isso é explicado por vários fatores: sua falta de simpatia por estruturas denominacionais, suas ligações com a Sociedade Missionária de Londres (majoritariamente congregacional), sua ordenação por um grupo independente de ministros e o seu casamento com Sarah Wilson, cuja família tinha fortes laços com essa igreja. Alguns autores chamam a atenção para uma conexão darbista, visto que um tio de Sarah era filiado aos Irmãos de Plymouth e o Rev. Richard Holden, um inglês que trabalhou com Kalley por vários anos no Rio de Janeiro, filiou-se a esse movimento e criou uma divisão na Igreja Fluminense em torno dessa questão. Kalley deplorava o anti-eclesiasticismo dos Irmãos e algumas de suas doutrinas, chegando a escrever oito longas cartas pastorais à Igreja Fluminense sobre os erros do darbysmo (1878-1879), mas certamente foi influenciado por seu estilo de vida simples, seu culto singelo e seu “franco individualismo”.[41]
A teologia de Kalley pode ser descrita como um tipo de evangelicalismo amplo. Duas expressões significativas das suas idéias teológicas são os hinos que ele e sua esposa escreveram e a “Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo”. O professor Antonio Gouvêa Mendonça sintetizou as concepções do casal Kalley expressas em seus hinos: Deus ama todos os seres humanos, apesar dos seus pecados; a resposta a esse amor é individual e voluntária (em contraste com a doutrina calvinista da predestinação); a salvação não é definitiva, como no calvinismo ortodoxo, mas está sujeita a quedas; isso requer uma ética rigorosa que traça uma nítida linha divisória entre o fiel e o mundo.[42] O referido autor conclui que Kalley era um legítimo representante do puritanismo escocês mesclado com o wesleyanismo metodista. A “Breve Exposição” declara em seu artigo 19 que a igreja de Cristo é composta “de todos os sinceros crentes no Redentor, os quais foram escolhidos por Deus, antes de haver mundo, para serem chamados e convertidos nesta vida, e glorificados durante a eternidade”.[43] Todavia, a maior parte dos artigos poderiam ser aceitos por qualquer evangélico, reformado ou não. Os elementos específicos do calvinismo, tais como a soberania de Deus, a eleição divina e a perseverança dos santos, não são enfatizados.[44]
Apesar das deficiências que possa ter tido, Kalley ocupa um lugar de honra na história das modernas missões protestantes. No que diz respeito ao Brasil, ele estabeleceu a primeira igreja protestante permanente entre os brasileiros de língua portuguesa e foi instrumento para a abertura das portas para a evangelização do povo brasileiro. Através de sua amizade com elementos destacados da sociedade, dos seus métodos de trabalho, de suas consultas a juristas respeitados e de suas reações a tentativas de intimidação por parte do clero, ele contribuiu para a ampliação da liberdade religiosa no Brasil, que veio a ser usufruída por outros missionários e igrejas. Através de suas práticas evangelísticas, dos cultos domésticos e da escola dominical, do uso da hinologia, literatura e imprensa, de seus colportores e conversos que depois se tornaram presbíteros, pastores e evangelistas em outras igrejas, Kalley exerceu uma profunda influência sobre os mais diferentes aspectos do protestantismo nacional. Em especial, seu modelo de evangelização e culto exerceu uma influência profunda e duradoura na cultura evangélica brasileira. A venda de Bíblias e Novos Testamentos de casa em casa, a distribuição de folhetos, as conversas com amigos e colegas de trabalho sobre Cristo e os convites para participar dos cultos domésticos diários foram formas não-agressivas e criativas que permitiram a inserção da nova opção religiosa num período em que ainda existiam diversas restrições legais à propaganda protestante.
Erasmo Braga, o grande líder e estudioso do protestantismo brasileiro, nutria grande admiração pela obra congregacional no Brasil, entendendo que refletia a influência do não-conformismo inglês e do espírito independente dos puritanos. Fascinava-o em especial o caráter eminentemente nacional do novo movimento. Escrevendo em 1931, Braga afirmou: “Sua característica peculiar é o fato de que se trata de um movimento inteiramente nacional, que nunca esteve eclesiasticamente sujeito ou foi financeiramente dependente de qualquer sociedade estrangeira e representa na América Latina uma tendência muito significativa, a saber, uma resposta de mentes ibero-americanas ao Evangelho que não pode ser atribuída à atividade missionária estrangeira”.[45] Kalley tornou-se um marco na história das missões e um pioneiro reverenciado no vasto mundo de língua portuguesa. Dezenas de homens e mulheres influenciados por ele divulgaram a mensagem cristã e plantaram igrejas na Ilha da Madeira, nas Antilhas, nos Estados Unidos, em Portugal e no Brasil. Seu trabalho continua a produzir frutos no presente. Pessoas que pouco sabem a seu respeito são herdeiras do seu ministério e seguem as suas pegadas. A sua coragem, heroísmo e fidelidade continuam a inspirar os cristãos evangélicos – reformados e não-reformados – no cumprimento da tarefa inacabada.
English Abstract
The Scottish medical missionary Robert R. Kalley (1809-1888) holds an honorable place in the Protestant missionary movement, having been a prominent pioneer in Portuguese-speaking countries. Struggling against immense difficulties and occasional deadly opposition, he was instrumental to the establishment of Presbyterianism in the island of Madeira (1839) and Congregationalism in Brazil (1855). He also influenced Portuguese-speaking churches in the Caribbean, Portugal, and the United States. His wisdom, courage, and commitment are an inspiration to the new generations of evangelical Christians. The author shows how Kalley left his native Scotland and ended up in the isolated Atlantic island of Madeira. He then proceeds to describe how Kalley’s medical and evangelistic efforts produced both an increasing number of converts and violent outbursts of religious intolerance. While thousands of “Calvinists” fled the island for their lives and eventually settled in the Antilles and the United States, Kalley spent a few years in Malta and Palestine. After the death of his first wife, he married a refined and talented Englishwoman, Sarah P. Wilson, member of a prominent Congregational family. Eventually the Kalleys went to Brazil, where they started the first native Protestant church in the history of that country. The author finishes his analysis by pointing out some interesting connections between Kalley and the Presbyterian missions in Brazil and makes a few remarks about his personality, theological ideas, and lasting influence on Brazilian Protestantism.
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[1] Uma versão resumida deste artigo, sob o título “Robert Kalley: De goede engelse dokter” (Robert Kalley: O bom doutor inglês) foi publicada na revista holandesa Terdege (23/10/2002), 28-29, 31.
[2] A Igreja da Escócia foi criada por ato do Parlamento em 1560, graças os esforços do reformador John Knox (c.1514-1572). Conhecida popularmente como “Kirk”, ela tem sido sempre presbiteriana, à exceção de dois períodos de episcopalismo modificado na época dos reis Stuart (século 17).
[3] A principal fonte dos dados históricos/biográficos deste artigo é Michael P. Testa, “The Apostle of Madeira: Dr. Robert Reid Kalley”, Journal of Presbyterian History 42/3 (Setembro 1964), 175-197, e 42/4 (Dezembro 1964), 244-271. A versão eletrônica do texto pode ser encontrada em:http://freepages.genealogy.rootsweb.com/~klondike98/Exiles/apostle/Apostle%20of%20Madeira.rtf . Um estudo mais recente é a obra de William B. Forsyth, The Wolf from Scotland: The Story of Robert Reid Kalley, Pioneer Missionary (1988). Um texto bastante sucinto pode ser encontrado em Ruth A. Tucker, “Até aos Confins da Terra”. Uma História Biográfica das Missões Cristãs, 2ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 1996), 503-507.
[4] A Sociedade Missionária de Londres, fundada em 1795, foi uma conseqüência do avivamento evangélico inglês do século 18 e, mais especificamente, dos esforços de William Carey (1761-1834), que resultaram no movimento missionário protestante do século 19. A sociedade era de caráter interdenominacional, mas seus fundos e pessoal procediam majoritariamente dos congregacionais. Kenneth S. Latourette, A History of Christianity, 2 vols., Vol. II: Reformation to the Present (Nova York: HarperCollins, 1975), 1033.
[5] Quanto à Ata da Comissão de Exame, ver Testa, “The Apostle of Madeira”, I:177. Quanto à ordenação, ver Esboço Histórico da Escola Dominical da Igreja Evangélica Fluminense: 1855-1932 (Rio de Janeiro, 1932), 27, 30s. O diploma de ordenação, escrito em latim, declara: “Por esta carta, fazemos saber a todos que o Sr. Robert Reid Kalley, versado em ciências e letras, e aprovado pela piedade da sua vida para o sacrossanto ministério cristão, foi ordenado, tendo sido oferecidas preces com imposição de mãos, por nós… (seguem os nomes dos seis ministros). Londres, 18 de julho de 1839 A.D.”
[6] Os discípulos de Kalley na Ilha da Madeira eram regularmente denominados “calvinistas”, o que aponta não tanto para as convicções teológicas do missionário quanto para as suas raízes escocesas e presbiterianas.
[7] Uma obra importante escrita por uma testemunha ocular é: João Fernandes Dagama, Perseguição dos Calvinistas da Madeira: Subsídios para a História das Perseguições Religiosas (Rio Claro: Tipografia Magalhães e Gerlach, 1896). O Rev. Dagama (1830-1906), um dos conversos de Kalley, foi missionário e pastor presbiteriano no Brasil por mais de trinta anos.
[8] Ver Richard P. McBrien, Os Papas – Os Pontífices: de São Pedro a João Paulo II (São Paulo: Loyola, 2000), 343-345, e Eamon Duffy, Santos e Pecadores: História dos Papas (São Paulo: Cosac & Naify, 1998), 218-221.
[9] No seu valioso estudo, Michael Testa destaca a extraordinária contribuição do Rev. Hewitson para a obra ligada a Kalley, tanto na Ilha da Madeira como no Caribe. Ver “The Apostle of Madeira”, I:187-193; II:248s.
[10] Testa, “The Apostle of Madeira”, I:191s.
[11] No dia 25 de janeiro de 1999, em uma cerimônia ecumênica que contou com a presença de representantes de todas as confissões cristãs existentes na Ilha da Madeira, o bispo de Funchal, D. Teodoro de Faria, se penitenciou em nome da igreja católica pelos episódios de intolerância contra os calvinistas ocorridos mais de um século e meio antes. Verhttp://www.presbiterianismo.com.br/Historia/Funchal.htm.
[12] O rigor do clima dessa região levou alguns dos imigrantes a se dirigirem para Massachusetts e Nova Jersey. Émile-G. Léonard, O Protestantismo Brasileiro: Estudo de Eclesiologia e História Social, 2ª ed. (Rio de Janeiro e São Paulo: JUERP/ASTE, 1981), 50.
[13] Testa, “The Apostle of Madeira”, II:256.
[14] Para maiores informações sobre a família de Sarah Kalley, ver Carl Joseph Hahn, História do Culto Protestante no Brasil (São Paulo: ASTE, 1989), 138s (e notas).
[15] Os Irmãos de Plymouth surgiram como um protesto contra a frieza, formalismo e sectarismo existentes nas igrejas evangélicas no início do século 19. Embora o movimento tenha iniciado em Dublin, Irlanda, a primeira congregação foi criada em Plymouth, Inglaterra, em 1831, sendo seu líder mais influente John Nelson Darby (1800-1882), o criador do dispensacionalismo. O grupo caracterizava-se por sua simplicidade de culto, profunda devoção, zelo evangelístico e interesse por estudos proféticos. Em 1848 houve um cisma que resultou em dois grupos: Irmãos Abertos e Irmãos Exclusivos (Darbistas). Ver J. D. Douglas, ed., The New International Dictionary of the Christian Church (Grand Rapids: Zondervan, 1978), 789.
[16] Segundo Hahn, Sarah havia ido com o pai ao Egito e à Síria para acompanhar o irmão, que veio a morrer de tuberculose em Beirute, sendo sepultado no Cemitério de Estrangeiros. A primeira esposa de Kalley morrera alguns dias antes e eles se encontraram no cemitério. História do Culto Protestante no Brasil, 149 (nota 385).
[17] Para valiosas informações sobre Fletcher, ver David Gueiros Vieira, O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil, 2ª ed. (Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1980), 61-94.
[18] Entre 1842 e 1846, quando ainda na Ilha da Madeira, o Rev. Kalley escreveu sete hinos (“Louvemos todos ao Pai do céu”, “Todos que na terra moram”, “O meu fiel Pastor”, “Jesus Cristo já morreu”, “Alma! escuta ao bom Senhor!”, “Cá sofremos aflição” e “Tem compaixão de mim, Senhor”). Esses provavelmente foram os primeiros hinos evangélicos cantados no Brasil, sendo posteriormente incorporados ao hinário Salmos e Hinos. Henriqueta Rosa Fernandes Braga, Música Sacra Evangélica no Brasil: Contribuição à sua História (Rio de Janeiro: Livraria Kosmos Editora, 1961), 109.
[19] Duncan Alexander Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil (São Paulo: ASTE, 1993), 103.
[20] Os metodistas já haviam feito um trabalho inicial no Rio de Janeiro (1835-1841), sob a liderança dos Revs. Justin Spaulding e Daniel Parish Kidder, trabalho esse que teve de ser interrompido e não deixou frutos em termos de conversos e igrejas. Kidder tornou-se um personagem célebre na história religiosa do Brasil, tendo sido o primeiro missionário protestante a viajar extensamente pelo país, distribuindo as Escrituras e fazendo contatos com políticos e intelectuais. Registrou as suas experiências na importante obra Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil, publicada originalmente em 1845, em Filadélfia.
[21] Ver a narrativa detalhada dos fatos em Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, 104-108.
[22] Esboço Histórico da Escola Dominical, 70s.
[23] Léonard, O Protestantismo Brasileiro, 52-54.
[24] Sobre o controvertido Holden, ver o rico material reunido por Vieira, Protestantismo, Maçonaria e Questão Religiosa, 163-207.
[25] A obra de Kalley no Brasil é descrita de modo sucinto em Esboço Histórico da Escola Dominical da Igreja Evangélica Fluminense e com maiores detalhes em uma obra de seu filho adotivo João Gomes da Rocha, Lembranças do Passado, 3 vols. (Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Publicidade, 1941-1946). Um 4º volume foi publicado em 1957 pelo periódico O Cristão.
[26] Braga, Música Sacra Evangélica no Brasil, 119. As igrejas que se organizaram como fruto do trabalho da UESA se filiaram a dois grupos distintos com base na forma adotada para o batismo: União das Igrejas Evangélicas Congregacionais (aspersão) e Igreja Cristã Evangélica do Brasil (imersão). Os dois grupos se uniram em 1942, surgindo a União das Igrejas Evangélicas Congregacionais e Cristãs do Brasil. Quanto às dificuldades encontradas pelos congregacionais brasileiros para definir a sua identidade denominacional, ver Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, 219-222.
[27] Em Springfield, Illinois, os imigrantes organizaram a Primeira Igreja Presbiteriana Portuguesa (1849) e a Segunda Igreja Presbiteriana Portuguesa (1858). Em Jacksonville, no mesmo estado, também surgiram duas igrejas com os mesmos nomes, em 1849 e 1855. A razão da existência de duas igrejas em cada cidade foi a controvérsia então existente no presbiterianismo americano entre “Velha Escola” e “Nova Escola”.
[28] As ligações entre presbiterianos e congregacionais eram freqüentes. Um exemplo bem conhecido foi o Plano de União (1801-1852), um acordo de cooperação feito entre as duas igrejas para a evangelização da fronteira norte-americana.
[29] Ashbel G. Simonton, O Diário de Simonton: 1852-1866, trad. D. R. Moraes Barros, 2ª ed. (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2002), 127 (31/08/1859). Simonton achou que não precisava ser tão cauteloso quanto aos seus objetivos e métodos evangelísticos como recomendava o missionário mais idoso.
[30] Ibid., 134-135 (19/12/1859). Alguns meses depois, Simonton passou duas semanas em Petrópolis, participando todas as tardes dos cultos realizadas na residência dos Kalley, que o convidaram a ficar com eles no final da sua estadia. Ver anotações de 11/04/1860.
[31] Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro: Primeiro Centenário, 1862-1962 (Rio de Janeiro, 1962), 9-11. No dia 25 de junho, em assembléia realizada na Igreja Fluminense, a comunidade presbiteriana elegeu o seu novo pastor, Rev. Álvaro Reis.
[32] As datas referem-se ao período em que eles trabalharam como missionários da PCUSA no Brasil.
[33] Merece um estudo especial a presença maciça de elementos portugueses nos primórdios da obra presbiteriana no Brasil.
[34] Alderi Souza de Matos, “Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil (1859-1900): Missionários, Pastores e Leigos do Século 19” (obra a ser publicada pela Editora Cultura Cristã).
[35] Hahn, História do Culto Protestante no Brasil, 148.
[36] Diz o artigo: “O Batismo com água foi ordenado por nosso Senhor Jesus Cristo como figura do Batismo verdadeiro e eficaz, feito pelo Salvador quando envia o Espírito Santo para regenerar o pecador. Pela recepção do Batismo com água, a pessoa declara que aceita os termos do pacto em que Deus assegura aos crentes as bênçãos da salvação”. Reily entende que essa rejeição implícita do batismo infantil distingue os congregacionais brasileiros dos demais congregacionais do mundo. Ver História Documental do Protestantismo no Brasil, 113s, 158 (n. 212).
[37] Testa, “The Apostle of Madeira”, II:268, citando Eduardo H. Moreira, Vidas Convergentes (Lisboa, 1958). Testa conclui que, caso isso pudesse ser comprovado, representaria um afastamento significativo da posição anterior de Kalley quanto ao batismo por imersão. Ver Rocha, Lembranças do Passado, vol. 2, p. 37.
[38] Hahn, História do Culto Protestante no Brasil, 143s.
[39] Ibid., 153. Segundo Hahn, Kalley tornou-se mais propenso ao legalismo no Brasil do que havia sido na Ilha da Madeira, onde possuía uma sortida adega de vinho. No Rio, chegou a proibir seus adeptos de alugarem uma carruagem no domingo para irem a um funeral. Ibid., 139. É importante lembrar que o “sabatarianismo” (observância estrita do dia do Senhor segundo Êxodo 20.8) foi característico de todos os primeiros evangélicos brasileiros.
[40] O casal Kalley, principalmente D. Sarah, produziu o primeiro e mais amplamente usado hinário evangélico em português, Salmos e Hinos. A 1ª edição foi impressa pela Tipografia Laemmert, no Rio de Janeiro, em 1861, e continha 18 salmos e 32 hinos, totalizando 50 cânticos. Seguiram-se novas edições em 1865 (83 cânticos), 1868 (100 cânticos), 1873 (138 cânticos), 1877 (180 cânticos) e muitas outras. A primeira edição de hinos com música (Música Sacra Arranjada para Quatro Vozes) foi impressa em 1868, em Leipzig. Ver Braga, Música Sacra Evangélica no Brasil, 111-115, 125-129.
[41] Testa, “The Apostle of Madeira”, II:267.
[42] Antonio Gouvêa Mendonça, O Celeste Porvir: A Inserção do Protestantismo no Brasil, 2nd ed. (São Paulo: ASTE, 1995), 176s. Mendonça opina que essas ênfases estão presentes no clássico de Bunyan, O Peregrino, que Kalley traduziu e publicou.
[43] Ver Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil, 113. A Igreja Fluminense aceitou formalmente os 27 artigos escritos por Kalley, acrescidos de um outro sobre a natureza de Deus (atual artigo 4), no dia 2 de julho de 1876. Em novembro de 1880, o governo imperial sancionou tanto a base doutrinária da igreja quanto os seus estatutos (Artigos Orgânicos).
[44] Hahn, História do Culto Protestante no Brasil, 143s.
[45] Erasmo Braga e Kenneth G. Grubb, The Republic of Brazil: A Survey of the Religious Situation (Londres: World Dominion Press, 1932), 57. Para reflexões adicionais sobre a vida, pensamento e práticas pastorais de Kalley, ver as obras de Douglas Nassif Cardoso, Robert Reid Kalley: Médico, Missionário e Profeta (São Bernardo do Campo, São Paulo, 2001) e Práticas Pastorais do Pioneiro na Evangelização do Brasil e de Portugal (São Bernardo do Campo, 2002).
© de Alderi Souza de Matos – Usado com permissão
“Publicado originalmente em: “Revista Fides Reformata”, Vol.III. Nº. 1 – 9-28″
Fotografia extraída de: “https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Kalley”
Muito bom e gratificante saber esta Hidtoria, pena que os congregacionais não investe mais em divulgação e principalmente nos Hinários Salmos e Hinos