Lutero, Calvino e a Música – Cyrene Paparotti
No início do século XVI, na Igreja Católica, a música religiosa era cantada em latim, nos modos eclesiásticos, no coro da igreja, por religiosos do sexo masculino.
Os reformadores, por sua vez, quiseram dar a música para a assembleia, ou seja, que essa música fosse cantada por todos os crentes, inclusive as mulheres. Logo, desde o início do protestantismo, uma nova música trará mudanças tanto nos textos, como na música propriamente dita. De modo que, no âmbito luterano os corais prevaleciam, enquanto, no meio calvinista, os salmos eram preponderantes. Porém ambos escreviam em língua vernacular.
Lutero aproveitava melodias conhecidas e adaptava os textos dos seus sermões à música, de forma que os fiéis memorizassem a mensagem. Certamente ele fazia modificações necessárias para transformar a prosa em poesia e, a melodia era construída adaptando este texto. Para fugir das formas complexas da escrita polifônica, ele simplificava a escrita na forma coral, ou seja, melodia e harmonia a quatro vozes, como em nossos hinários. O canto era também estrófico e silábico. Ele conservou o uso de órgão, instrumentos musicais e mesmo de coristas profissionais, com o objetivo de ensinar à igreja. Lutero, amava música e era compositor. Em sua óptica, Deus anunciava o evangelho pela música. O evangelho, sendo o verbo encarnado, Cristo era o centro do culto. E através dos cânticos ele pregava a encarnação do Cristo, a cruz, a ressureição. A produção musical foi imensa, chegando em cerca de 5.000 corais desde o início da reforma até a época de Bach.
Já, na estética Calvinista, o canto era em uníssono, silábico e sobretudo, a letra deveria respeitar os acentos tônicos da língua. O texto era preferencialmente o dos salmos, metrificados em poesia. O uso de instrumentos não era estritamente necessário, mesmo porque, com a igreja tão perseguida na França, muitas vezes os cultos eram feitos em recintos menores e sem instrumento. Os cânticos eram modais e a cappella. Segundo a corrente reformista, as músicas eram diferentes. De forma que os Saltério de Lyon, Lausanne, Basileia, não eram o mesmo de Genebra, por exemplo.
A letra era restrita aos salmos, porque Calvino (1509-1564) acreditava que estas palavras eram ditadas por Deus aos salmistas, eram divinas e não de invenção humana como os sermões. E a centralidade do culto estava na glória de Deus (Soli Deo Gloria). Curiosamente, ele descobre os salmos cantados em alemão, em Estrasburgo (pois Lutero já tinha tido esta ideia) com o luterano Martin Bucer (1491-1551). Inspirado nesta ideia ele encomenda a metrificação dos salmos aos poetas Clément de Marot e Théodore de Bèze. E a composição musical coube aos célebres músicos Louis Bourgeois, Claude Goudimel e Claude Lejeune principalmente. Porém a produção musical calvinista chega ao seu fim no século XVI.
Hinário oficial do 150 salmos metrificados (Genebra ,1562) de coleção particular.
Bibliografia :
- Le psautier français, Fed. Musique et Chant, Réveil Publications, Lyon, 1995
- PIDOUX Pierre, Le psautier huguenot du XVIesiècle, Baerenreiter, Bâle, 1962
- REYMOND Bernard, Le protestantisme et la musique, Labor et Fides, Genève, 2002
- WEBER Édith, La musique protestante en langue française, Honoré Champion, Paris, 1979
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