Jochen Klepper (1903-1942)
Jochen Klepper (1903-1942)
Jochen Klepper, o hinógrafo que respondeu à violência
(Especial para “Hinologia Cristã”)
A pesquisadora Gertrud Tönsing para a Universidade da África do Sul em 2019 escreveu um artigo sobre Jochen Klepper, que, da perspectiva da hinodia cristã, deu resposta a uma situação política violenta.
Ela enfatiza o fato de que, frequentemente, os hinos que tratam de questões difíceis não são facilmente aceitos. Às vezes, hinógrafos encontram a linguagem que é aceita pelas congregações.
Dados biográficos
Jochen Klepper nasceu alemão na Silésia (atualmente numa cidade na Polônia) em 22 de março de 1903. Fez o curso primário na casa de seu pai, um pastor luterano, até a idade de 14 anos.
Em 1922, com 19 anos, foi estudar teologia na Universidade de Erlangen; um ano mais tarde, transferiu-se para a de Breslau. Terminada a graduação, começou o doutorado, que abandonou para trabalhar como editor eclesiástico, e, depois, em 1927, como jornalista numa empresa protestante.
Em 1931, casou-se com a viúva Johanna Stein, que era judia, convertida em 1938 ao Cristianismo, e tinha duas filhas menores; então foi trabalhar em Berlim como radialista.
Em 1933, uma das primeiras vítimas do Nazismo, logo depois da ascensão de Adolf Hitler, foi demitido de uma editora. Começou em 1935 a escrever literatura.
A perseguição nazista contra os Judeus fez com que sua filha adotiva Brigitte tivesse de fugir em 1939 para a Inglaterra, depois de a Polônia ter sido invadida e quando a Segunda Guerra Mundial tinha começado. Klepper foi convocado pelo exército como soldado; deve ter ocorrido um equívoco burocrático, pois cidadãos alemães casados com mulheres judias não poderiam ser alistados nas forças armadas. Ele serviu em uma unidade de suprimentos para as tropas na Polônia, Rússia e Bulgária. Em 1942, por causa de seu “casamento misto”, foi dispensado do exército. Na ocasião chegou a negociar com Adolf Eichmann, chefe da evacuação judaica, um passaporte para proteger Renata, sua filha adotiva menor.
Klepper morreu em Berlim na noite de 11 de dezembro de 1942; pouco antes escreveu em seu diário: “Permanece, nos últimos momentos, a imagem do Cristo bendito à nossa volta”; esse diário foi levado ao tribunal penal dos Aliados, para ser usado como evidência contra Eichmann.
Bibliografia
Klepper, entre outros, escreveu os livros “Der Vater” (O Pai), sobre o rei Frederico Guilherme da Prússia (1937), “Kyrie” (Senhor, tem compaixão!”) (1938), “Kriegestagebuch” (Livro dos dias de luta) e “Ein Leben zwischen Idyllen und Katastrophen” (Uma vida entre os idílios e as catástrofes). Em 1956 seus diários compuseram a coletânea “In the Shadow of Your Wings” (À sombra de Vossas asas).
Os poemas do “Kyrie” ganharam apoio entre os mais críticos Cristãos na Alemanha e tornaram-se mais bem conhecidos depois da guerra. Ainda há uma controvérsia a respeito dos referidos poemas (ver: Thalmann, R. Jochen Klepper, ein Leben zwischen Idyllen und Katastrophen. Munich: Kaiser, 1977). Alguns leitores alemães reconheceram sua cumplicidade na era nazista.
O próprio Klepper foi uma vítima do terror.
Hinografia
Klepper em 1938 escreveu para o “Evangelisches Gesangbuch” (Livro de Cânticos Evangélicos).
A atual edição é de 1994, um dos hinários das Igrejas reformadas da Europa; aos textos de Rudolf Alexander Schröder (1878-1962) e Arno Pötzsch (1900-1956) honrosamente juntados os textos de Klepper.
Em 1938 escreveu 11 hinos para o “Evangelisches Gesangbuch”. Da atual edição constam os seguintes:
- “Die Nacht ist vorgedringen, der Tag ist nicht mehr fern” (EG-16);
- “Du Kind, zu dieser heilgen Zeit gedenken wir auch an dein Leid” (EG-50);
- “Der du die Zeit in Händen hat, Herr” (EG-64);
- “Gott Vater, du hast deinen Namen in deinem lieben
Sohn verklärt” (EG-208);
- “Freut euch im Herren allewege!” (EG-239);
- “Gott wohnt in einem Lichte, dem Keiner nahen kann” (EG-379);
- “Ja, ich will euch tragen bis zum Alter hin” (EG-380);
- “Er weckt mich alle Morgen, er weckt mir selbst das Ohr” (EG-452);
- “Der Tag ist seiner Höhe nah” (EG-457);
- “Ich liege, Herr, in deiner Hut und schlafe ganz mit Frieden” (EG-486);
- “Nun sich das Herz von allen löste, was es an Glück und Gut um schliesst, komm, Tröster, Heilgen Geist” (EG-532).
Para o “Gottlob – Katholisches Gebet und Gesangbuch” escreveu 6 hinos.
Klepper também está presente no hinário da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, “Hinos do Povo de Deus”, nos. 3 e 23 (São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 1982).
O “Hinário para o Culto Cristão” (1991) abrigou 17 hinos da hinodia alemã, “a mais rica de todas as hinodias”, escritos e compostos por poetas e compositores do mais alto gabarito artístico, mas na época seus elaboradores não conheciam Klepper (ver: O Jornal Batista, artigo no. 779 de Rolando de Nassau, 03 fev 2013).
Num hino natalino, o qual é muito soturno para ser cantado na maioria dos cultos congregacionais durante as festas natalinas, Klepper faz a conexão da história do Natal com a nossa culpa e a cruz: “em frente da manjedoura está a sepultura vazia” (“Vor deiner Krippe gähnt das Grab”) (EG-50).
Na opinião de Gertrude Tönsing, “em contraste com o hino de Natal, seu hino para o Advento tem-se tornado um hino favorito das congregações luteranas.
Ele tem poderosas imagens de luz e trevas; sua imagem central é da estrela natalina que brilha quando ainda está escuro, mas a manhã ainda não chegou” (EG-16).
Klepper também escreveu um hino para a conclusão do ano, livremente baseado no Salmo 90, que fala acerca das “opressões” sofridas, que Deus trans- formaria em bênçãos. Mais uma vez, ele expressa sua consciência do pecado e reconhece sua culpa, confiando na misericórdia de Deus (EG-64).
Como ressaltou a pesquisadora universitária da África do Sul, “proeminentes em seus hinos são os temas da luz e das trevas, da culpa e da redenção. Sua linguagem é profundamente bíblica. Com efeito, Klepper ele mesmo comenta o fato que, frequentemente, as palavras bíblicas “não necessitam de adições por um poeta”. Embora haja uma grande profundidade na verdade dos hinos, há uma escura fenda de medo e amargura, a qual está ausente em Paul Gerhardt”.
Os hinos que tratam de realidades dolorosas e trazem uma mensagem de conforto deveriam ser aco-lhidos pelas congregações.
Klepper, em sua resposta à violência, pode sugerir-nos que devemos ter esperança, apesar do nosso próprio sofrimento.
Brasília, DF, em 22 de setembro de 2021.
© 2021 de Roberto Torres Hollanda – Usado com permissão
Doc.HC-114