Feliciano Amaral (1920-2018)
Feliciano Amaral (1920-2018)
“Um Sermão de Quatro Minutos”
(Artigo escrito em 1971, porém relançado no site Hinologia Cristã – Cantos da Fé Cristã em 2018)
São praticamente legendárias as experiências contadas por pastores, relatando o que foi o seu primeiro sermão. Eu próprio tenho ouvido mensagens que duraram somente oito ou dez minutos e, mesmo assim, conseguidas com um esforço super-humano da parte do pregador neófito, e depois de ele quase esgotar por completo os seus conhecimentos teológicos e homiléticos. Mas, de quatro minutos só! Espere aí, isto já é reduzido demais!
O jovem de 23 anos levantou-se para pregar o seu primeiro sermão, na residência de “Dona Senhorina”. Pediu a Deus para que lhe orientasse. Havia sido batizado três dias antes (7 de março de 1943), depois da Escola Bíblia Dominical, e foi logo convidado para pregar o sermão naquele ponto de pregação.
Sentiu um tremendo peso em cima dos seus ombros. Não somente havia pessoas não crentes presentes, mas também um homem anteriormente excluído da igreja e que foi mais para debochar do pregador novato.
O pregador começou. Não sabemos o texto que ele usou, nem se proferiu as costumeiras palavras introdutórias, mas o fato é que quatro minutos depois terminara o sermão.
Se algum leitor sabe dum sermão mais curto do que este, queremos que nos informe.
Poucas pessoas poderiam prever, naquela noite, o que seria do ministério daquele jovem pregador. Homem de família simples, o nosso personagem de família simples nasceu no dia 20 de outubro de 1920, em Miradouro, antiga Santa Rita da Glória, interior do Estado de Minas Gerais.
O seu pai, Júlio Augusto do Amaral, era pedreiro e chefe político daquela cidade. Serviu, também, durante um período, como delegado do mesmo lugar. Sua mãe, Palmira Maria da Conceição, dedicava o seu tempo cuidando dos seus 9 filhos (3 homens e 6 mulheres).
O pequeno Feliciano, desde cedo, mostrava uma queda para a música. Com 10 anos fazia parte da banda de Miradouro, tocando tambor. Dois anos mais tarde havia deixado o tambor com outro e participava da mesma banda, tocando trombone e bombardino.
O seu único contato com a Igreja Batista foi através dos netos do Pastor Ernesto de Abreu Lima, com quem fez grande amizade. Junto com estes seus amigos, ele, quando ainda criança, ajudava a carregar material de construção.
Quando jovem, Feliciano atendeu ao apelo para ajudar na construção da estrada Rio-Bahia. Era um trabalho árduo, pouco compensador, porém, para Feliciano, foi uma grande bênção, pois Deus começou a operar na sua vida.
Por intermédio de um amigo de infância, que também ali foi trabalhar, Feliciano ficou impressionado: como havia mudado aquele amigo! Depois descobriu o porquê. Havia aceito a Cristo como seu Salvador. Tratava-se de Oswaldo Viana, que começou a ler a Bíblia para Feliciano e a evangeliza-lo.
Foi durante esta época que Feliciano começou a interessar-se pela música da Igreja. Passando por uma casa, ouviu pela primeira vez um quarteto masculino cantando um hino evangélico.
Quando sua mãe, D. Palmira, soube do seu interesse pelo evangelho, ficou triste e tentou proibir a conversão do filho. Como filho obediente que era, Feliciano ficou mais de um ano e meio sem se preocupar em ir à igreja.
Recebeu convite para cantar na Rádio Sociedade de Muriaé. Quase todas as noites o pequeno auditório da rádio se enchia com aproximadamente 350 pessoas. A voz de Feliciano agradava muito e ele foi um dos artistas mais queridos do elenco da rádio local. De dia ele exercia a humilde profissão de sapateiro.
Certa vez Feliciano, da janela de sua casa, ouviu uma linda melodia. Um grupo da Igreja Metodista estava cantando “Deixa a luz do céu entrar”. Na Praça João Pinheiro o grupo realizava um culto ao ar-livre. Ao ouvir o hino, Feliciano lembrou das muitas vezes em que Oswaldo Viana com ele leu a Bíblia e orou. Lembrou das vezes em que entrou na Igreja Batista.
Uma semana depois, exercendo a sua profissão de sapateiro, teve um contato com o Pastor Antônio Bispo da Luz, que dirigia a Igreja Batista local. Feliciano contou o impacto que recebeu quando ouviu o cântico dos metodistas. O Pastor Luz fez amizade com o sapateiro-cantor e tudo fez para leva-lo para a igreja. Um dia, indo os dois pela rua, encontraram um grupo de moças, fãs de Feliciano. Debochadamente as moças disseram ao pastor: “Não adianta, Pastor, o senhor não vai conseguir tirar Feliciano do rádio.” Naquele momento Feliciano sentiu como o diabo o estava tentando. Contudo, resolveu seguir a Cristo. Aceitou Cristo como seu Salvador e mais tarde foi batizado pelo próprio pastor Luz, em Muriaé.
No domingo depois da famosa pregação de quatro minutos, Feliciano foi convidado pelos moços para pregar na praça. O mesmo homem que assistiu a sua primeira pregação para gozá-lo desta vez assistiu para apoiá-lo.
O Pastor Bispo ficou impressionado com o desenvolvimento espiritual de Feliciano. Embora o jovem pregador nem sequer ainda houvesse terminar o curso primário, o Pastor Bispo recomendou-o para estudar no Colégio Batista de Belo Horizonte.
Completou o Curso e, em 1947, iniciou os seus estudos no Seminário Teológico Batista Betel, GB. Enquanto estudava, trabalhava na Fábrica de Sapatos Gonzales e mais tarde novamente no DNER.
Formando-se no Seminário, em outubro de 1950. Feliciano foi consagrado ao Ministério, no dia 4 de novembro do mesmo ano e, no dia 10 de dezembro, tomou posse na Igreja Batista de Montes Claros.
Durante os seus dias de estudo no Seminário Betel, o nome de Feliciano Amaral começou a ser conhecido através da sua atuação como cantor de música sacra. Ganhou logo o apelido de “Rouxinol do Sertão”. Cantava nas igrejas e participava do programa radiofônico “Ondas de Salvação”, do Pastor Miranda Pinto.
Quando a Casa Publicadora Batista lançou as Gravações Atlas, Feliciano Amaral foi o primeiro grande nome daquele selo, pioneiro no trabalho evangélico. Em 1959 formou, junto com Paulo Rangel, o selo “Favoritos”.
Desde então, o nome de Feliciano Amaral é associado aos dos principais cantores de música evangélica no Brasil. Mas o nome de Feliciano Amaral traz à mente outros pensamentos: humildade, simplicidade, mansidão, dedicação…
Quando pastoreava a Igreja Batista de Montes Claros, às vezes ele andava até 150 km para fazer visitas. O ministério de Feliciano Amaral está fortemente ligado com a Igreja Batista de Croslândia, pois foi o seu pastor por três vezes: 1953-1962, 1962-1965 (depois de um período de oito meses na Igreja Batista em Belo Horizonte), ainda em 1965 pastoreou a igreja Batista da Pavuna.
Feliciano Amaral é daqueles cantores que cantaram mais com o coração do que com a própria voz. Ouvi-lo cantar é ouvir uma pregação, ouvindo um dos hinos cantados por Feliciano Amaral, constatamos que ele continua pregando sermões de quatro minutos. Feliciano Amaral entrou no “Guiness Book” como cantor mais velho no mundo em atividade musical.
O pastor Feliciano Amaral faleceu em 07/07/2018 em Porto Velho/RO. Deixou a esposa, Rubenita do Amaral, filhas, genros e bisnetos.
“Publicado originalmente em: “O Jornal Batista”, Ed. 39 , Abril 1971, pág. 4 – Coluna “Canto Musical”
© 1971 de Bill H. Ichter – Usado com permissão
Obrigada por este memorial do pastor Feliciano Amaral. Um grande exemplo de vida cristã. Nós o amávamos.
Não sabia Até esse momento da perda do nosso grande cantor de voz angelical e pastor Feliciano Amaral. É muito triste, mas temos a certeza de que está descansando nos braços do Senhor Jesus. Meus sentimentos aos famíliares. Que Deus os abençoe.
Agradeço, irmão João! É uma perda imensa, mas sabemos que ele está no melhor lugar e cantando no melhor coral, o dos salvos por Cristo Jesus!
Um pioneiro da música cristã no Brasil,pena que o mundo”gospel” a nossa juventude não tenha tido conhecimento da importância desse ícone no meio cristão como adorador não focado na fama nem na riqueza e sim ganhar almas para Jesus através do louvor com sua voz doce e suave,marcante .. grande perda… sentiremos saudades…
Sempre foi o meu preferido e sempre será. Canto seus hinos gloriosos nos corais que tenho a alegria em reger. Suas obras estão escritas no grande livro das obras. Glória a Deus!
Gostaria de saber qual foi o primeiro trabalho de Feliciano Amaral e o último album. Ícone da musica sacra.
Feliciano Amaral, o que dizer deste servo de Deus? Este dentre outros, foi um ícone da musica sacra brasileira. Sempre cantei e continuarei a cantar as canções desse admirável homem de Deus. Quero ouvi-lo cantar na eternidade um dia.
É um elevo para alma de todos nós ouvir os belos hinos sacros cantados pelo Pastor Feliciano Amaral. Ele dá as letras sacras e as melodias o verdadeiro amor de Deus e nos faz cada vez mais acreditar e confiar em nosso Deus.
Pé. Feliciano, o ouço desde minha pré adolescência. Ainda hoje, aproximo 70 anos, ouço quando das minhas atividades no lar. É uma bênção, uma oração e uma pregação valorosa. Grande Homem de Deus.
Quando ele estava em Crislandia c dona Elza, minha mãe trabalhava com eles e cantava também com os mesmos