Coral Evangélico de São Paulo – 75 Anos – Dr. Alderi Matos
Coral Evangélico de São Paulo – 75 Anos
O Coral Evangélico de São Paulo, que completa 75 anos de valiosa e abençoada trajetória, é herdeiro de uma longa e vigorosa tradição musical evangélica no Brasil. A professora Henriqueta Rosa Fernandes Braga (1909-1983), em sua magistral obra Música Sacra Evangélica no Brasil (1961), fez um valioso levantamento do tema até 1960, ou seja, durante pouco mais de um século de trabalho evangélico em língua portuguesa, desde a chegada do Rev. Robert Reid Kalley (1809-1888) e sua esposa Sarah Poulton Kalley (1825-1907) ao Rio de Janeiro, em 1855. Em sua meticulosa pesquisa, essa autora aborda as atividades musicais desenvolvidas pelas diferentes denominações, inclusive a formação de inúmeros grupos corais.
Todas as agremiações evangélicas valorizaram imensamente a música sacra, tanto no aspecto congregacional quanto coral. Os presbiterianos, por exemplo, deram muitas contribuições significativas, graças ao trabalho de talentosos musicistas e compositores. O Rev. Antônio Pedro de Cerqueira Leite (1845-1883), que esteve à frente da Igreja Presbiteriana de Sorocaba por uma década (1873-1883), criou um dos primeiros corais evangélicos do Brasil, que permanece até o presente com o nome do Rev. Zacarias de Miranda (1851-1926), seu sucessor naquela igreja e também destacado musicista. Os Revs. John Boyle (1845-1892), Matatias Gomes dos Santos (1879-1950), Renato Ribeiro dos Santos (1898-1967), Jorge César Mota (1912-2001), Natanael Emmerich (1907-1978) e outros produziram hinários, redigiram composições e criaram corais. Suas biografias podem ser encontradas no site Hinologia Cristã, de Robson José dos Santos Jr.
Em 1948, o Rev. Natanael Inocêncio do Nascimento, pastor e professor metodista, mais tarde eleito bispo, sendo dotado de uma bela voz e de grande aptidão musical, iniciou um coral na Igreja Metodista Central de São Paulo, na Rua da Liberdade. Esse conjunto era constituído de trabalhadores humildes, com escasso conhecimento musical e uma grande vontade de aprender. Com o passar do tempo, o fundador passou a convidar para esse trabalho elementos de outras denominações, dando-lhe um caráter interconfessional. A primeira peça musical que ele ensaiou com o grupo foi o oratório “São João Batista”, do compositor luterano gaúcho Léo Schneider. Foram realizados mais de 240 ensaios até a apresentação ao público em 1951.
Alguns anos depois, assumiu a regência do coral o maestro Umberto Cantoni (1929-2022), inicialmente um simples coralista, que haveria de permanecer à frente do grupo musical por mais de 30 anos. Dotado de apurada formação musical no Brasil e nos Estados Unidos, ele construiu um currículo invejável como maestro, professor e criador de corais. Seu sucessor foi Alberto Corazza Júnior (1938-2021), também metodista, que por algum tempo fora apenas outro integrante do coral. Tinha estudado regência com o maestro João Wilson Faustini na 1ª Igreja Presbiteriana Independente (Catedral Evangélica de São Paulo) e posteriormente regeu os coros dessa igreja (1966-1972) e da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo (1972-1975).
Em 2002, assumiu a direção do Coral Evangélico a maestrina Dorotéa Machado Kerr, nascida em 1946, uma das mais destacadas musicistas e organistas evangélicas do Brasil. Com licenciatura, mestrado e doutorado em música, este último na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, ela foi organista e regente do coral da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo e da 1ª Igreja Presbiteriana Independente, bem como presidente da Associação Paulista de Organistas, da Associação Brasileira de Organistas e professora do Departamento de Música da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Regeu e dirigiu as gravações do Grande Coral de São Paulo e do Coral Cantores Evangélicos (grupo masculino). É pesquisadora da atividade organística no Brasil, música para órgão, música sacra evangélica e outros temas, com várias obras publicadas.
Ao longo das décadas, o Coral Evangélico de São Paulo realizou frequentes apresentações em igrejas e eventos, tanto na capital paulista como em outras cidades. Por exemplo, na “Semana Santa” de 1965, sob a regência do maestro Alberto Corazza Júnior, o grupo realizou uma ampla programação em igrejas e instituições sociais na cidade de Bauru. Em 1976, cantou em um culto evangelístico promovido pelos jovens da Igreja Presbiteriana da Bela Vista, na capital, sendo pregador na ocasião o Rev. Odayr Olivetti, capelão do Instituto Mackenzie. Essas e outras atividades estão registradas em periódicos de diferentes denominações evangélicas. Ao longo do tempo, surgiram corais evangélicos em muitas outras cidades, como Natal, Petrópolis, Rio de Janeiro, Florianópolis, Campinas, Piracicaba, Santos, São José dos Campos e Lins, mas nenhum alcançou tanta projeção como o coral paulistano.
Foram especialmente significativas as atividades das décadas mais recentes. A título de exemplo, em 2004-2005 participou, como coral convidado pela Orquestra Sinfonia Cultura, da execução da “Missa” de Ernani Aguiar e do “Te Deum” de Villani Cortes, sob regência do maestro Lutero Rodrigues. Em 2008, foram duas apresentações de grande significado: um concerto na Câmara Municipal de São Paulo e outro com a Banda Sinfônica da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em comemoração aos 177 anos da corporação.
Em 2009, houve várias apresentações de destaque: concerto no 12º Festival de Música Sacra, na Catedral Evangélica de São Paulo, com o apoio do Instituto de Artes da UNESP; Concerto de Música Sacra na Igreja Batista Memorial de Brasília; concerto na 9ª Mostra Mackenzie de Música Sacra e concerto “Tributo a Haendel e Mendelssohn” na Catedral Evangélica de São Paulo. Em 2010, participou do Concerto de Natal na Catedral Evangélica de São Paulo; em 15 de dezembro de 2012, do Concerto Bach-Haendel, no mesmo local, e em 7 de dezembro de 2013, do Concerto Cantata Cântico de Natal, ainda na Catedral Evangélica de São Paulo. Em 11 de dezembro de 2015, o coral participou do concerto “A Poesia do Natal” e em 28 de março de 2018, cantou no Culto das Sete Palavras de Cristo na Cruz, no mesmo local.
A maestrina Dorotéa Kerr liderou a mais magnífica iniciativa que envolveu o Coral Evangélico de São Paulo. Em 1997, quando regia os corais da Catedral Evangélica de São Paulo, constatando o progressivo abandono dos hinos tradicionais cantados por tantas gerações de fiéis, ela idealizou o projeto “Resgate dos hinos da nossa história”. A ideia era gravar CDs com o intuito de valorizar e preservar esse rico patrimônio, reconhecendo seu valor histórico, artístico e espiritual. Para o primeiro CD (“Nossos Hinos Favoritos”, 1997), foram convidados o Coral Evangélico de São Paulo e o Coral Evangélico de Piracicaba, regidos pelo maestro Umberto Cantoni.
A partir de então o projeto passou a contar com a participação do Grande Coral Evangélico, cuja espinha dorsal sempre foi o Coral Evangélico de São Paulo.
- 1997 – Nossos Hinos Favoritos I – CD (coral de 200 vozes)
- 1997 – Sons & Tons do Natal – CD (coral de 200 vozes)
- 1998 – Canto de Mulher – Coral Feminino da Catedral Evangélica de São Paulo
- 2000 – Hinos da Nossa História I – CD (coral de 320 vozes e orquestra)
- 2001 – Louvai ao Senhor – CD (coral de 720 vozes e orquestra)
- 2002 – Nossos Hinos Favoritos II – CD (coral de 191 vozes masculinas e orquestra)
- 2004 – Oh! Que Belos Hinos – CD (coral de 480 vozes)
- 2006 – Tributo de Louvor – CD (coral de 400 vozes)
- 2008 – Exultai, Vinde Todos Louvar – CD e DVD (coral de 350 vozes)
- 2011 – Hinos da Nossa História II – CD e DVD (coral de 250 vozes, piano e órgão)
Os CDs gravados nos anos seguintes foram: “Canto de Mulher” – feminino (1998); “Sons e Tons do Natal” (1999); “Hinos da Nossa História” (2000); “Louvai ao Senhor” (2001); “Nossos Hinos Favoritos II” – masculino (2002); “Oh! Que Belos Hinos” (2004); “Tributo de Louvor” (2006); “Exultai! Vinde Todos Louvar” (2008) e “Hinos da Nossa História II” (2011). Os dois últimos também foram gravados em DVD. Na edição de 2001 (“Louvai ao Senhor”), gravada no Memorial da América Latina, o Grande Coral reuniu nada menos que 720 cantores e contou com a participação da Orquestra Brasileira de Músicos Evangélicos. Os demais CDs foram gravados nos majestosos templos da Catedral Evangélica de São Paulo e da Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveiras.
O Coral Evangélico de São Paulo continua a participar de cultos em diversas igrejas evangélicas de São Paulo e outras cidades. Em 2017, integrando o Grande Coral Evangélico, com cerca de 200 pessoas, comemorou na Igreja Jardim das Oliveiras os 500 anos da Reforma Protestante. Em 2019 participou com outros corais do concerto de inauguração do órgão de tubos instalado na Catedral Evangélica de São Paulo, reunindo 194 vozes. No mesmo ano participou das comemorações do 188º aniversário da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em evento realizado na Sala São Paulo sob a regência do major Clébio de Azevedo. As 170 vozes tiveram o acompanhamento da Banda Sinfônica da Polícia Militar. Ainda em 2019, participou dos cultos de aniversário de três igrejas e terminou o ano com o tradicional Culto de Natal.
Atualmente o coral conta com a participação de 60 pessoas, sendo os ensaios realizados às segundas-feiras na Catedral Metodista de São Paulo, onde tudo começou. A diretoria é composta por Edson Becker Ribeiro (presidente), Paulo da Silva Pinto (vice-presidente e maestro assistente), Elaine Galvão Lancellotti (secretária), Glaucia Lopes Silva (responsável pela técnica vocal) e Rogério Fernandes do Nascimento (pianista), todos sob a direção da maestrina Dorotéa Kerr. Para este ano ainda cantará músicas tradicionais de Natal com o Coral Maestro Rev. João Wilson Faustini e participantes de diversos coros de São Paulo. Para 2024 planeja ir a Joinville (SC), a fim de participar de dois cultos.
Os 75 anos do Coral Evangélico de São Paulo serão comemorados solenemente no dia 21 de outubro de 2023, às 19 horas, com um concerto na Catedral Evangélica de São Paulo, na Rua Nestor Pestana. O maestro Paulo Pinto observa que as músicas escolhidas para o evento refletem alguns momentos da trajetória e da hinologia do coral, como “Maravilhosa Graça”; hinos do período de regência do maestro Umberto Cantoni, como “Sonda-me, ó Deus”, de Renato Ribeiro dos Santos; do período de regência da maestrina Dorotéa Kerr (Salmo 121, de Allen Pote; Salmo 150, de César Franck), e hinos que remetem a trabalhos gravados pelo coral, como “Pai Nosso Sertanejo”, de Nabor Nunes Filho. Além desses, o Coral Evangélico também prepara surpresas. O mesmo maestro adianta: “Temos ensaiado exaustivamente, pois além das músicas acima citadas incluímos algumas que não faziam parte do repertório ordinário do coral. Foram muito bem escolhidas pela maestrina [Dorotéa Kerr] para enriquecer o repertório nesta data tão importante e significativa”.
Graças a Deus pela bonita e longeva carreira do Coral Evangélico de São Paulo, pelas extraordinárias contribuições que tem oferecido a tantas pessoas, igrejas e instituições, por tornar mais conhecido o evangelho redentor de Cristo, por louvar o Senhor com arte e com júbilo (Sl 33.3).
Rev. Dr. Alderi Souza de Matos
Historiador da Igreja Presbiteriana do Brasil
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