“Cantos da Fé Cristã”, de Faustini – Rolando de Nassau

(Especial para “Hinologia Cristã”)

A Palavra de Deus, lida pelo oficiante do culto, pede uma resposta, que se exprime pelo canto: “Lengenti respondentes cantavimus” (Ao leitor respondemos pelo canto – Agostinho).

Naquela época, era a leitura de um salmo (salmodia).

Antes que os cânticos, baseados na Bíblia, ocupassem lugar na liturgia primitiva, já eram cantadas composições poéticas; mas as heresias fizeram delas um meio de propaganda.

Nas épocas de decadência litúrgica, como a que estamos vivendo, essas composições manifestavam uma grande indigência e desfiguravam a celebração do culto divino.

Desde o século III, começaram os expurgos dos cânticos não-baseados na Bíblia.

Na Igreja oriental, a hinografia, na língua grega, desenvolveu-se, a partir do século IV, com Clemente de Alexandria (150-216) e Efraim da Síria(307-373). Além de hinógrafo,Clemente era bispo.

Particularmente na liturgia bizantina, entre os maiores hinógrafos está André de Creta (650-712), precedido por Efraim da Síria, na luta contra a heresia por meio do canto. Nessa conjuntura, ocorreu o predomínio da hinodia sobre a salmodia; mas a hinodia era conforme a doutrina ortodoxa, isto é, não-herética.

Efraim da Síria foi imitado por Sinésio de Cirene (370-413) e Anatólio de Constantinopla (    -458).

No Ocidente, os hinos latinos de Ambrósio de Milão (340-397) serviram de modelo a Hilário de Poitiers (315-367). Venâncio Fortunato (530-609), poeta e teólogo, teve seus hinos adotados pela liturgia.

Bernard de Clairvaux (1091-1153), Tomás de Aquino  (1225-1274) e Bianco de Siena (1350-1399) foram outros ilustres hinógrafos medievais.

Os hinos suscitaram oposição; em 563 A.D. foram condenados pelo Concílio de Braga. A Igreja Romana foi a última a aceita-los.

Desde o início do século XXI, os hinos tradicionais estão sendo desafiados pelos cânticos contemporâneos na preferência das congregações evangélicas.

Pela primeira vez na língua portuguesa, o compositor e hinógrafo João Wilson Faustini publicou um opúsculo contendo hinos que “cristalizavam as doutrinas cristãs básicas”.

Escritos nas línguas grega, latina, inglesa ou italiana, foram traduzidos ou musicados por Faustini.

Além de hinos elaborados poeticamente pelos hinógrafos acima citados, para nosso conhecimento e deleite intelectual Faustini compilou e ofereceu, em 2011, o livreto intitulado “Cantos da Fé Cristã”, no qual também aparecem hinógrafos do século XX, dos quais destacamos os seguintes:

– Francis Bland Tucker (1895-1984) – Este hinógrafo e ministro americano, imitador de Wesley, contribuiu para a elaboração dos hinários episcopais de 1940 e 1982.

Faustini, em 2005, traduziu e compôs a música do hino “Christ, When for Us You Were Baptized” (Jesus, o Espirito de Deus).

– Fred Pratt Green (1903-2000) – Incentivado pelo poeta Fallon Webb, começou a escrever letras de hinos, chegando ao posto de co-editor de um suplemento do hinário metodista.

Erik Routley, grande crítico musical britânico, que divulgou nos EUA a obra hinódica, considerou Green o mais importante hinógrafo metodista, depois de Charles Wesley.

Faustini escolheu, em 2010, para traduzir, o hino “This Ist he Threefold Truth” (De Três Verdades Nossa Fé Dependerá). Cada estrofe termina com as exclamações “Cristo morreu!”, “Cristo ressuscitou!” e “Cristo voltará!”, as mais antigas expressões do culto cristão.

– Michael John Saward (1932-    ) – Vigário da Igreja da Inglaterra em Londres, foi editor de “Hymns for Today’s Church” (1982). Escreveu o hino “Baptized in Water”, em 1981, segundo um comentário “o batismo foi inicialmente um símbolo de perdão”; de acordo com a linha da segunda estrofe, que diz: “mas perdoados, ressuscitamos”.

– Brian Arthur Wren (1936-    ) – Ministro da Igreja Congregacionalista (agora Igreja Reformada Unida), encorajado por Erik Routley, começou em 1962 a escrever hinos, tornando-se um dos mais prolíficos hinógrafos da hinodia tradicional inglesa, publicados pela editora “Hope”.

Em 2010, Faustini traduziu deWren o hino “In Great Calcutta ChristIs Known” (Conhecem Cristo em Calcutá).

– Daniel L. Schutte (1947-    ) – É um compositor e hinógrafo jesuíta americano, cujo hino mais conhecido é “Here I Am, Lord” (Eis-me Aqui, Senhor), traduzido e arranjado por Faustini.

– Richard Leach (1953-    ) – Escreveu a letra de “Sheep Have Brown Eyes” (Umas Têm Seus Olhos Negros), em 2003 traduzido e composto por Faustini.

As congregações evangélicas de língua portuguesa têm à sua disposição mais um exemplo da hinodia faustiniana, para gáudio da hinologia e perfeito louvor de Deus, porque incorpora seriamente a Teologia à Música.

Fontes:

BOLISANI, E., L’ innologia Cristiana antica, S.Ambrogio e suoi imitatori. Padova: 1963.
CAVALLERA, Ferdinando, Patrologia Graeca.
GELINEAU, Joseph, Chant et musique dans le culte chrétien.
Paris: Fleurus, 1962.
MARTIMORT, Aimé-Georges. A Igreja em Oração.
Lisboa: Ora et Labora, 1965.
MIGUE, J.P. Patrologia Graeca (séculos III/XV).
WELLESZ, E., A History of Byzantine Music and Hymnography.
Oxford: Clarendon Press, 1949.

Brasília, DF, em 23 de janeiro de 2016.

Rolando de Nassau.

© Rolando de Nassau – Usado com permissão

Nota do Editor: Curiosamente, o nome “Cantos da Fé Cristã” que esse site leva consigo, foi sugestão do próprio maestro João Wilson Faustini

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