Um pouco sobre Métrica – Bill H. Ichter
(No decorrer do percurso deste artigo, para facilitar a sua compreensão grifamos nas ilustrações as sílabas que, de acordo com a música com que são cantadas, recebem acentuação tônica).
A Métrica, isto é, a arte de medir versos, parece que está muito pouco difundida em nosso meio. Na esperança de que possa servir de estímulo aos nossos poetas, para que escrevam mais hinos, elaboramos este artigo sobre a Métrica.
A palavra METRO é de origem grega e Caldas Aulete diz que é a “medida que regula a quantidade de sílabas longas ou breves que deve ter cada verso”. É o ritmo de sílabas pronunciadas com intervalos regulares.
Na música, as sílabas do verso dum hino são colocadas de acordo com o seu ritmo, em grupos de sílabas chamados pés poéticos. O pé poético é a parte do verso composto de duas até quatro sílabas longas ou breves: dáctilo e espondeu.
Os “pés” são para a poesia o que são os compassos para a música. Não temos a certeza de como os versos gregos foram adaptados à música. Provavelmente aquele povo cantava as sílabas longas com sons longos, e as sílabas breves com sons breves.
O verso moderno é cantado com maior variedade de combinações dos sons longos e breves, mas sempre as sílabas acentuadas devem combinar com os tempos fortes ou acentuados.
Infelizmente, o nosso hinário contém muitos exemplos do contrário.
Talvez não haja melhor exemplo dum hino cujo verso não combina com o ritmo da música com que é cantado do que o hino 126 do Cantor Cristão. Devido ao andamento desta música com que é cantado do que o hino 126 do Cantor Cristão. Devido ao andamento desta música, a pessoa que canta este hino é obrigada a pronunciar erradamente algumas de suas palavras. Não há maneira de cantar certo esta letra com a música que a acompanha. Experimente o irmão, e vai verificar que é obrigado a cantar da seguinte maneira:
Louvai, louvai Cristo bom Mestre divino,
Por nós na cruz ele sofreu, morreu;
Perdão, perdão hoje aos crentes outorga…
Só destacamos as primeiras 3 linhas da 1.ª estrofe mas nas outras estrofes continua o mesmo problema.
A primeira palavra da 1.ª e 3.ª linhas, sai com acento na primeira sílaba em vez de na segunda. A música nos obriga a fazer isso.
Na segunda linha, somos obrigados mais uma vez pela música a acentuar por e na, em vez das palavras mais importantes que são nós e cruz.
É a repetição regular do “acento” que determina a métrica do verso.
Os principais tipos de pés poéticos usados nos hinos são:
Jambo – que é um pé métrico de duas sílabas, uma breve e outra longa. Ex. Jesus.
Troqueu – que é um pé métrico de duas sílabas, uma longa e outra breve. Ex: Cristo
Anapesto – que é um pé métrico de três sílabas, duas breves e uma longa. Ex: Salvador
Dáctilo – que é um pé métrico de três sílabas, uma longa e duas breves. Ex. Glória
Anfíbraco – que é um pé métrico de três sílabas, uma breve, uma longa e uma breve. Ex. Batismo
O metro dum hino é determinado pelo número de sílabas numa linha, o número de versos numa estrofe e o pé métrico usado.
Sílabas de palavras de dois ou três pés, como aquelas acima mencionadas, são chamadas pés simples, enquanto que as palavras com 4, 5 ou 6 sílabas são classificadas com pés dobrados ou composto (muitas vezes, porém, são juntados e tratados como pés simples).
Os metros encontrados com mais frequência nos hinários, onde por sinal tem muitos hinos traduzidos de outras línguas, são:
1) Metro Comum (C.M.), que é uma estrofe de 4 linhas compostas de uma sílaba breve não acentuada seguida por uma sílaba longa acentuada em cada pé métrico. As sílabas tem a seguinte numeração e ordem: 8.6.8.6, isto é, oito sílabas na 1.ª e 3.ª linhas e 6 sílabas na 2.ª e 4.ª linhas.
Exemplo: Hino 94:
Só tu, / Je-sus, / le-vas / te a cruz,/ 8
Hu-mil/ de em teu / a-mor,/ 6
No teu/ o-lhar/ bri-lha/ va a luz / 8
De com/ pai-xão, / Se-nhor!/ 6
A letra D colocada depois do sinal do metro C.M. (ex. C.M.D.) quer dizer que o metro indicado é dobrado (8.6.8.6.8.6.8.6)
Às vezes encontramos C.M. com refrão (ou estribilho), que quer dizer que a estrofe obedece ao metro indicado mas o estribilho não.
Outro exemplo de C.M. é o hino 60.
2) Metro Longo (L.M), que é uma estrofe de 4 linhas compostas de uma sílaba breve não acentuada seguida por uma sílaba longa acentuada em cada pé poético.
As sílabas têm a seguinte numeração e ordem: 8.8.8.8., isto é, 8 sílabas em cada uma das 4 linhas.
Exemplo: Hino 266:
Tal qual/ es-tou/ eis-me,/ Se-nhor,/ 8
Pois o/ teu san/gue re/mi-dor/ 8
Ver-tes/te pe/lo pe/ca-dor;/ 8
Ó Sal/ va-dor,/ me a-che/go a ti! 8
3) Metro simples (S.M), que é uma estrofe de 4 linhas compostas de uma sílaba breve não acentuada seguida por uma sílaba longa acentuada em cada pé poético. As sílabas têm a seguinte numeração e ordem: 6.6.8.6.
Exemplo: Hino 379;
Ben-di/ tos la/ços são/ 6
Os do/ fra-ter/ no a-mor,/ 6
Que nes/ta san/ta co/um-nhão/ 8
Nos u/nem ao/ Se-nhor./ 6
Entre outros tipos de metro utilizado no hinário, temos os seguintes:
4) Trocaico 7, que é uma estrofe de 4 linhas compostas de uma sílaba longa acentuada seguida por uma não acentuada. As sílabas têm a seguinte numeração e ordem: 7.7.7.7.
Exemplo 7.7.7.7. D: Hino 326
Meu di/vi-no/ pro-te/tor,/ 7
Que-ro em/ti me/ re-fu/giar; 7
Pois as/ on-das/ de ter/ror 7
A-me /açam/ me tra/gar! 7
Qua-se es/tou a/ pe-re/cer! 7
Dá-me a/ tu a/ pro-te/ção; 7
Pois guar/da-do em /teu po/der 7
Não re/cei-o o /fu-ra/cão. 7
Outro exemplo de 7.7.7.7 com refrão ou estribilho: Hino 542:
5) Trocaico 7.6.7.6., que é uma estrofe de 4 linhas compostas de uma sílaba longa acentuada seguida por uma não acentuada. As sílabas têm a seguinte numeração e ordem: 7.6.7.6.
Exemplo de 7.6.7.6. D: Hino 505:
Je-ru/ sa-lém/ ex-cel/sa,
Glo-ria/mo-nos/ em ti;
A-fá/vel es/pe-ran/ça
Do teu/ re-ba/nho a-aqui./
Ra-dian/te e be/lo um/ro
Ao lon/ge já/ se vê,/
E as pre/ces, ân/cias, lu/tas,
Re-do/bram pe/la fé./
Mencionemos somente alguns dos outros tipos com exemplos dos mesmos contidos no CANTOR CRISTÃO.
6) Anapesto 9, que é uma estrofe de 4 linhas compostas por uma sílaba longa acentuada seguida por duas não acentuadas. As sílabas levam a seguinte numeração: 9.9.9.9.
Exemplo de 9.9.9.9 com estribilho: Hino 508:
Eu a-vis/to u-ma ter/ra fe-liz/
On-de i-rei/ pa-ra sem/ pre mo-rar;/
Há man-sões/ nes-se lin-/do pa-ís/
Que Je-sus/ foi ao céu/ pre-pa-rar./
(Estribilho)
Vou mo-rar,/ vou mo-rar/
Nes-as ter/ra ce-les/te por-vir./
Vou mo-rar,/ vou mo-rar/
Nes-as ter/ra ce-les/te por-vir./
7) Anapesto 11, que é uma estrofe de 4 linhas compostas de uma sílaba têm a seguinte numeração: 11.11.11.11.
Exemplo de 11.11.11.11: Hino 303:
Je/sus sem-pre/ te a-mo por/que sei que és/ meu;
A /ti toda a /hon-ra e lou/vo-res dou/ eu.
Meu /Mes-ter di/vi-no, meu /A-mo, meu /Rei,
A/ ti, ó meu /Cris-to, me / sub-me-te/rei!
Reconhecemos que usamos aqui no Brasil um sistema diferente do que em alguns outros países e sabemos que algumas informações contidas neste artigo podem contrariar algumas das nossas regras de métrica (veja “Tratado de Metrificação”, de Olavo Bilac Guimarães Passo, e “A Arte do Poeta” de Geir Campos), porém parece que o tratado de metrificação em vigor não levou em consideração a poesia cantada (como os hinos que cantamos), pois é fácil dizer que a última sílaba não tônica não conta, porém ao cantarmos uma poesia temos de achar uma nota para estas sílabas.
Há muita coisa a fazer neste setor. Gostaríamos que os nossos poetas escrevessem mais poesias destinadas a se tornarem belos hinos. O campo está aberto.
“Publicado originalmente em: “O Jornal Batista”, Ed. 11, Março de 1967, pág. 5”
© 1967 de Bill H. Ichter – Usado com permissão