“Grandioso és tu” – Lida E. Knight
Conhecida em português em várias traduções este hino tem história interessantíssima, e já que está sendo cantado pelo Brasil e fora, convém conhece-lo.
Carl Boberg (1859-1940), sueco, impressionado com as belezas da natureza ao seu redor rescreveu o poema em uma noite de estio de 1886. “O Store Gud”, a poesia, foi publicada e logo esquecida, mas, para surpresa do autor ao visitar a província de Varmland anos mais tarde, ouviu seus versos cantados com uma música folclórica sueca!
Este hino de louvor e confiança num Deus onipotente acompanhou os crentes suecos aos EUA logo no início do século XX, e foi traduzido para o inglês pelo prof. Gustav Johnson em 1925, passando a constar no hinário da Evangelical Mission Covenant Church (1950)
E as aventuras deste hino na Europa? O missionário inglês, Rev. Stuart K. Hine de Londres fornece os dados deste capítulo na vida do hino. Ele e sua esposa conheceram “Grandioso és Tu!” quando trabalhavam na Ucrânia (sudoeste da Rússia Europeia) entre os anos 1923-1939. Diz o Rev. Hine que o hino consta na coleção russa “Kimvali” (Címbalos) de 1223 hinos, publicada cerca de 1930 por uma empresa batista na Polônia.
A tradução russa veio do Sr. I. S. Prokhanoff, um crente encarcerado na cidade de Tver em 1921, ou possivelmente mais cedo duma pessoa desconhecida. Relata o Rev. Hine que depois de cantar o hino em russo, húngaro, placo, romeno e alemão, e de o traduzir para o inglês (1948), é que chegou a conhecer o original sueco em Estocolmo! Disse ele: “o hino (isto é, a poesia) melhorou bastante pelo desvio na Rússia, devido provavelmente, às experiências do tradutor na prisão. A harmonia escrevi de memória, e apesar da inexatidão harmônica é, em essência, a usada pelos povos de nove línguas diferentes como as comparações posteriores mostraram. Arnera traduziu o hino para o francês da minha tradução inglesa, e o publicou. Nunca vi a música sueca original.”
A poesia de Borberg, isto é, o original, é simplesmente sua expressão de admiração diante do fenômeno da natureza criada por Deus. A variação considerável entre as traduções inglesas – do sueco por Johnson e do russo por Hine – indicam que a versão original sofreu uma série de modificações até mesmo no conteúdo, ao passar por vários países e idiomas. O prof. Richard M. Elmer do Colégio Bíblico do Cleveland-Ohio, escrevendo em The Hymn, não concorda com Hine que a versão russa seja melhor que a original. Afirma ele que da mesma fonte temos dois hinos bons e tão diferentes que ambos podem figurar no mesmo hinário. Ele escreveu: “em geral, eu diria que a linguagem de How Great Thou Art é mais simples e seu apelo mais direto do que a versão mais poética do prof. Johnson, O Mighty God!
Entre uma dezena de traduções em português, quero destacar duas. “Quão grande Deus é” por João Gomes da Rocha (1910) publicada em Louvores (1938), coleção que comemorava o centenário da chegada de Dr. Robert Reid Kalley à Madeira. Parece-me que o Dr. Rocha usou o texto original ou uma tradução dele, talvez em inglês, pois ele residiu na Inglaterra. A primeira metade expressa admiração pelo Deus criador da natureza que foi justamente o tema que Boberg abordou em suas nove estrofes. Entretanto Dr. Rocha amplia o pensamento, passando a descrever a situação humana perante a Lei de Deus, e a obra de Cristo em benefício do homem. É de notar que a tradução de João Gomes da Rocha é de 1910, ao passo que a de Hine de 1948 é por sua vez da russa de cerca de 1921. Daí sabermos que Dr. Rocha não viu a versão da Rússia, e portanto a ampliação do tema deve ser dele mesmo.
Esta tradução não logrou popularidade aqui no Brasil como aconteceu também com a do prof. Johnson em inglês – “O Mighty God”. Coube à tradução do russo feita pelo Rev. Hine tornar o hino conhecido nas Américas. Popularização pela equipe de cruzadas de Billy Graham, “How Great Thou Art!” se tornou célebre, e por sua vez foi traduzido em vários idiomas. Conservando ainda a adoração perante as maravilhas do universo e do seu Criador (na tradução russa, da qual vieram as nossas mais conhecidas em português, através da tradução inglesa por Hine), na terceira estrofe o crente volta seu pensamento da criação para o Salvador da mesma, para Cristo e seu sacrifício. Mas não fica satisfeito com esta contemplação, pois na última estrofe encara sua entrada no Lar Eterno, onde com os santos, salvos por Cristo, há de ajoelhar-se e adorar para todo o sempre aquele que está assentado no Trono.
“Grandioso és Tu!”, talvez a versão mais usada em português, foi cantada por milhares no estádio do Pacaembu durante a cruzada de Billy Graham em setembro de 1962. Rev. Nathanael Emmerich, seu tradutor, foi ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil.
A melodia é simples e do tipo folclórico, mas as harmonizações variam tanto quanto as traduções. O prof. Helmer afirma que em cada publicação do hino, aparece uma harmonização diferente. Notamos que as harmonizações em Louvores e Hinário do Grande Coral da Cruzada de Evangelização Billy Graham, são completamente diferentes. A Casa Publicadora Batista publicou arranjos para vozes femininas e masculinas em duas coleções diferentes. Seria interessante ouvir esta música como Boberg a ouviu lá em Varmland, cantada pelo povo sueco!
Fonte:
O MINISTÉRIO DA MÚSICA, Publicação dos Músicos Evangélicos do Brasil, ano 1 – Novembro e Dezembro de 1963 – N.º 4
© 1963 de Lida Edmonia Knight (In Memoriam)