Acostumado com as dificuldades que hoje enfrentamos na publicação de novos hinos, sempre tivemos uma apreciação muito grande pelo trabalho inicial feito em dois grandes hinários evangélicos no Brasil – SALMOS E HINOS, publicado em 1861 e CANTOR CRISTÃO, publicado em 1891.
Imaginem os leitores quantas dificuldades o casal Kalley (SALMOS E HINOS) e Salomão Ginsburg (CANTOR CRISTÃO) enfrentaram naquela época para publicar os dois respectivos hinários.
Mas se houve problemas em publicar um hinário como CANTOR CRISTÃO, em 1891, houve problemas sérios para se fazer a revisão do mesmo quase 80 anos mais tarde.
Como sabem os leitores, o CANTOR CRISTÃO, até a edição que saiu em princípios de 1972, nunca levou uma documentação farta e completa dos seus hinos.
Como começar a pesquisar um hino cuja melodia não é conhecida e vem de uma outra terra, e cujo o cabeçalho trazia somente o título e as iniciais do tradutor (como foi na maioria dos casos)? Foi necessário consultar muitos hinários de vários países, de várias épocas e de vários idiomas. Muitas vezes tivemos de recorrer a uma grande enciclopédia de melodias, procurando nota por nota, para alguma informação que nos fosse útil. Felizmente, tivemos a grande colaboração, neste trabalho, dum grupo de jovens do Curso de Música Sacra do Seminário Teológico Batista do Sul do Rio de Janeiro. Este grupo, liderado pela professora Joan Sutton, nos prestou uma inestimável colaboração.
No curso do trabalho de revisão, muitas experiências interessantes surgiram. Entre estas, uma se destaca. É a história de como surgiu a inspiração a respeito da autoria da música com que é cantado o hino nº. 439 do CANTOR CRISTÃO, “Minha Pátria para Cristo”. Este hino é, entre os batistas brasileiros, talvez o mais popular. Pastor José dos Reis Pereira, redator de “O Jornal Batista”, órgão da Convenção Batista Brasileira, escrevendo no mesmo, na sua edição de 10 de janeiro de 1965, se referiu a este hino como A Marselhesa dos Batistas Brasileiros. “Minha Pátria para Cristo” é uma espécie de grito de guerra dos batistas brasileiros. É um hino religioso-patriótico porque fala de Crsito e é uma oração em favor desta grande nação Brasileira.
A letra deste hino foi escrita por W. E. Entzminger, missionário norte-americano, que labutou no Brasil de 1891 a 1930. Mas a música, quem escreveu? Como descobri de onde veio a melodia?
Em janeiro de 1969, D. Helena Hatcher, missionária aposentada, nos visitou em nosso gabinete. Falamos do hino “Minha Pátria para Cristo” e contamos a ela as dificuldades que estávamos enfrentando para descobrir o nome do compositor.
Helena nos contou que tinha uma vaga lembrança, depois que chegou no Brasil, no início de 1916, de ter recebido um exemplar do jornal “Baptist Standard” (Jornal Estadual dos Batistas Texanos) e que numa das suas páginas trazia um hino intitulado “My Prayer” (Minha Oração). A poesia era muito bonita, e Salomão Ginsburg a traduziu para o português, dando-lhe o mesmo título “Minha Oração”. Mais tarde W. E. Entzminger escreveu uma outra letra, baseada, em parte, na tradução de Ginsburg, mas dando, desta vez, um sentido patriótico para o povo brasileiro.
Depois de escrever ao redator daquele órgão denominacional, descobrimos que, de fato, na sua edição de 13 de Abril de 1916, o hino “My Prayer” fora publicado, e que letra e música foram da autoria de Emily Lindsey.
O mesmo “Baptist Standard”, na sua edição de 9 de abril de 1969, publicou um pequeno artigo nosso, que levou no fim um apelo, pedindo a qualquer pessoa informações a respeito de Emily Lindsey.
Imediatamente começou uma chuva de cartas de leitores daquele jornal. Descobrimos que D. Emily (Emiline) Willis Lindsay era batista, professora de Escola Bíblica Dominical, professora de música, musicista exímia e por mais de 50 anos dedicado e fiel membro da Primeira Igreja Batista de Nacodoches, Texas, EE. UU., onde serviu também como organista e como uma das líderes do trabalho missionário. Uma das cartas contendo informações de Emily Lindsey foi escrita por uma das suas ex-alunas de piano. Quando escreveu a carta, esta senhora, já com 79 anos, servia como pianista do seu Departamento de Escola Bíblica Dominical, e cantava num coro da igreja, coro este composto só de pessoas com mais de 60 anos de idade.
Recebemos fotografias antigas da residência do casal Robert Lindsey e de uma reunião social da classe da Escola Bíblica que tinha à sua frente a prof. Emily Lindsey.
Tudo indica que D. Emily Willis Lindsey era uma pessoa muito dedicada, talentosa e querida. A irmã dela, já com 92 anos de idade, nos escreveu, dizendo: “Jamais deixarei de louvar a Deus por ter abençoado os batistas brasileiros através de minha tão abençoada irmã. Não é maravilhoso o alcance que tem uma vida consagrada a ele? Apocalipse 4.13”.
Essa pergunta é fascinante e com ela terminamos este pequeno artigo, pois, através da sua música, uma dedicada serva de Deus, numa pequena cidade universitária americana, tem abençoado milhares de pessoas em todo rincão deste grande Brasil.
“Publicado originalmente em: Louvor Perene nº 53 – Abril, Maio e Junho de 1973”
© 1973 de Bill H. Ichter– Usado com permissão